Os partidos aprovaram por unanimidade. Não foi o Bloco Central. Foi todo o espectro partidário. É coisa para desconfiar. Dinheirinho toca a todos. Segundo a lei anterior, os partidos só podiam receber 22.500 euros de contribuições em dinheiro vivo. A partir de ontem, o limite passa a ser de 1,2 milhões de euros, 55 vezes mais. A lei é feita para acomodar os protestos do PCP, que se sentia especialmente visado por a lei anterior não lhe permitir encaixar legalmente as receitas da Festa do Avante!. A primeira premissa é boa: a lei deve ser geral, mas acolhe um interesse particular. Um aplauso!
Tendo em conta os factos da vida real, dinheiro vivo é coisa perigosa! Quando Luís Filipe Menezes quis que as quotas do PSD voltassem a ser pagas como cada um entendia, ai jesus!, disse Rui Rio, que vinha aí a máfia e aquilo ia ser um rol de lavagem de dinheiro sujo. E Rio tinha razão.
Vamos então a um exemplo concreto. Um empreiteiro quer passar umas massas ao partido e não pode, porque a lei não deixa. Agora, com limites tão altos, é mais fácil acomodar essas generosas vontades. Basta organizar um jantar lá na terra, meter o dinheiro vivo num saco e distribuir donativos pelos Jacinto Leite Capelo Rego desta vida e lá vai a massa directa para a sede. Mais fácil ainda será meter dinheiro no partido, vindo sabe-se lá de onde, se o jantar-comício se realizar no estrangeiro, junto dos emigrantes, segundo o mesmo tipo de processo.
Sendo os partidos incumpridores crónicos das leis que produzem nesta matéria, alguém acha que isto é para levar a sério?
ADENDA: António José Seguro, do PS, votou isolado contra o projecto de lei. Haja esperança.
A Saúde Oral em Cheques - 6 de Novembro de 2007 - o ministro da Saúde, Correia de Campos, anuncia um programa de saúde oral que inclui cheques-dentista para idosos, grávidas e um programa para crianças, no valor de 21 milhões de euros. (aqui)
Cheque-dentista para crianças - 11 de Novembro de 2008 - ministra da Saúde, Ana Jorge, anuncia que o cheque-dentista vai passar a ser distribuído às crianças e jovens de quatro, cinco, sete, dez e 13 anos em 2009, num investimento de mais de 25 milhões de euros. (aqui)
Sócrates dá cheque-dentista a criancinhas - 28 de Abril de 2009 - PM entrega cheques a crianças de uma escola na Penha de França, em Lisboa. A medida integra-se no plano de promoção da saúde oral que no último ano abrangeu quase 37 mil idosos e grávidas. Os cheques-dentista devem abranger 200 mil crianças. (aqui)
A Newsweek publica esta semana a extraordinária história de Ali Soufan, um agente do FBI a trabalhar com a CIA nos interrogatórios de suspeitos de terrorismo, que lhes tirava informações valiosíssimas sem recorrer à tortura. Neste artigo ele representa o poder do soft power e os valores da democracia americana. Foi afastado quando elementos dos serviços secretos passaram a ter cobertura política para torturar.
Não me parece que alguém ganhe ou perca eleições por causa de um cartaz ou dois.
Em todo o caso, um cartaz ou dois podem dar-nos a ideia de quem neles vive.
Manuela Ferreira Leite quer dar-nos a verdade, só a verdade e nada mais do que a verdade, tanto que o seu partido agora é o PSDV.
A honestidade da líder do PSD está nos seus cartazes sem ironias. É tão sóbria, que num partido que tem uma imagem de marca na alegria da sua cor, faz um primeiro cartaz azul-escuro debruado a laranja, em vez de ser laranja debruado a azul. Quer avisar-nos: não contem com cores berrantes nem com gritos e palavras de ordem, que a política não é um arco-íris, a vida não está para festas e vamos vestindo a cor do nosso fado, por respeito pela nossa desgraça. A coisa é salazarenta. Por este caminho, chegaremos ao luto.
Neste cartaz, Manuela é mais verdadeira ainda na sua verdade. Aparece como uma enfermeira branca, que tratará de nós se a escolhermos, sobre um fundo cinzento da nossa realidade. Aquele cinza deixa-me perplexo. Deitar cinzento num cartaz partidário é como pintar de encarnado um anúncio a pensos higiénicos. Manuela é cinzenta, as nossas vidas são cinzentas, Portugal é cinzento, vamos todos votar cinzento.
Claro que nem tudo é mau. A linha telefónica é uma boa ideia num país em que o povo espera que os políticos lhes digam como as coisas devem ser, aqui está uma política a pedir que lhe digam outras coisas sobre as coisas públicas. Manuela terá o país do Fórum da TSF a ligar-lhe para o partido, o que será de grande utilidade, como sabemos. Só que este guterrismo de diálogo mitigado não cola com a verdade de Ferreira Leite. Manuela não é de grandes conversas. Se mal ouve os colaboradores mais directos, por que razão há-de ouvir-me a mim?
Deixo o bom para o fim. Gosto que um político me diga: "Não desista (não tem ponto de exclamação) somos todos precisos"
Pois somos. Mas somos precisos para quê? O PS de Sócrates queria transformar Portugal na Finlândia do Sul com choques tecnológicos e computadores para todas as criancinhas, é inverosímil, mas é um caminho com um horizonte. Ainda não consegui perceber, por mais louváveis que sejam as suas ideias, para onde é que o PSD nos quer levar.
Para os jornais e televisões, secos de receitas de publicidade, nada como uma pandemia de histeria sobre a hipotética pandemia para dar uma nova vida ao negócio. Run for your lives!
José Pacheco Pereira tem razão: esta a notícia do Diário Económico não faz sentido, a partir do momento em que Manuela Ferreira Leite fez o seu esclarecimento à Lusa. Neste caso, a peça do DN, que JPP tanto costuma criticar, é exemplar. Mas também não fazem sentido as críticas obsessivas de JPP aos jornalistas sem que a líder do seu partido passe sem uma crítica. Ferreira Leite está muito melhor, como se viu na entrevista (mole) de Mário Crespo, mas continua a ser um exemplo de inabilidade política.
Se não queria deixar que pairassem quaisquer dúvidas sobre o Bloco Central, nunca responderia:
"Eu sentir-me-ia confortável com qualquer solução em que eu acredite. Em que eu acredite que a conjugação de esforços e, especialmente, a conjugação de interesses - interesses no sentido do País - são coincidentes. Se perceber que o objectivo país não é propriamente aquele que está no centro das atenções, então com dificuldade haverá um Governo que possa contribuir para a melhoria do País."
Um político sabe o que as suas palavras valem. Se era contra o Bloco Central, teria de responder que não, jamais aceitaria uma solução dessas. A interpretação dos jornalistas com base nesta afirmação não é abusiva, é absolutamente legítima e correcta. Mas o costume, nas entrevistas de Ferreira Leite, é nos minutos seguintes ela ter de explicar o que acabou de dizer, desdizendo o que disse, o que é que se há-de-fazer?
Adenda - Na edição em papel, a notícia do Diário Económico tem um título diferente da edição on-line - "O Governo está a ceder aos grandes grupos" - e um enfoque que não é o mesmo a que JPP se refere.
A Condé Naste vai fechar a Portfolio e, aqui no Elevador, suspira-se. A crise não perdoa e o mercado já estava disputado por grandes nomes, como a Fortune, a Business Week ou a Forbes. A Portfolio durou dois anos.
A edição de Maio será a última e já está nas bancas nos Estados Unidos – espere-se o habitual delay até à chegada a este canto europeu.
Em 2005, quando a gripe das aves estava na ordem do dia, a Foreign Affairs fez uma edição sobre o tema The Next Pandemic? Ao ler este artigo percebemos a razão científica, e justificada, para este pânico todo. Ao mesmo tempo, temos a noção de que o medo pode levar o poder político a fazer negócios ruinosos com farmacêuticas, mas que se não se realizassem eram um escândalo caso a pandemia se disseminasse. São facas de dois gumes, estas crises que nós humanos ainda não dominamos. Confesso que depois de ler aquele artigo fiquei com medo. Vou comprar uma máscara gira... com nariz de porco.
E aí está (aquiaqui ou aqui) – já vimos este tipo de histeria com a pneumonia atípica e a gripe das aves. Agora eis que se apresenta a variante suína da coisa.
Numa era em que as doenças viajam à velocidade da mobilidade das pessoas faz sentido informar e emitir avisos. O problema é quando a informação viaja várias vezes mais depressa do que as pessoas ou a doença. Depois de um certo tempo já há pouco para informar e, como o assunto vende bem, passa-se à habitual exploração das fobias urbanóides de milhões de pessoas. Será uma questão de tempo até isto acontecer em força – convenhamos que não há paciência.
No Elevador será imposto o uso de máscara e de desinfectante para as mãos.
E, como a gripe é suína, não serão aqui permitidas javardices de qualquer tipo. Não vá o diabo tecê-las.
Há concertos a que não se deve assistir a seguir a determinados concertos. Ontem à noite fui aos Dias da Música, no CCB, ouvir Uri Cane e dois músicos do outro mundo (no contrabaixo e na bateria) a desconstruirem compositores clássicos (Bach, Mozart, Mahler) em devaneios de jazz extraordinários. Pegavam nesses temas e levavam-nos a passear por New Orleans, Nova Iorque, por clubes fumarentos de jam sessions improvisadas, regressando depois a uma frase musical onde se identificava a base, lá está, é isto mesmo. Arrojados. Sem limites. Geniais. Arrebatadores.
Logo a seguir, fui ouvir o trio de Jacques Loussier, que foi o primeiro pianista de jazz a levar para outras paisagens musicais as Variações de Goldberg, há 50 anos.
Só que depois de assistir ao primeiro concerto, este músico que no seu tempo foi considerado um revolucionário, parecia agora um menino de coro a tocar os autores clássicos sem arriscar fugir dos cânones académicos do jazz mais tradicional. Foi um óptimo concerto. Mas devia tê-los visto pela ordem inversa.
ADENDA: Agora com o nome de Loussier corrigido e com links para as páginas dos músicos.
24 abril 2009
:: Guarda-freio: João Cândido da Silva
Quando se aproxima o aniversário do 25 de Abril, é habitual surgirem as vozes saudosistas do PREC a reclamarem o regresso à "utopia" e aos "amanhãs que cantam". Não percebo a reincidência nesse desejo melancólico. De Estaline a Hitler, para nos ficarmos apenas pelo século XX, as "utopias" deixaram um longo rasto de morte e atrocidades.
Não me parece, por isto, que se trate de uma forma adequada de celebrar o 25 de Abril e o que a data significa, apesar dos muitos atropelos que se seguiram, na institucionalização de um regime democrático e de um Estado de direito em Portugal. As "utopias" podem parecer um sonho, mas na realidade são o início de muitos pesadelos.
O Guardian publicou há uns meses um belíssimo artigo no G2 onde uma jornalista narra a discussão de uma hora que teve com o actor Kiefer Sutherland sobre a tortura na ficção e a tortura na vida real e o posicionamento político de Jack Bauer. Republicano? Democrata? A discussão foi viva e ele não a torturou durante a entrevista. O artigo é de leitura obrigatória.
Uma das partes mais interessantes do texto é esta:
"Jack Bauer," he asserts, "is to me an apolitical character." Really? "Well, can you tell me if Jack Bauer is a Democrat or a Republican?" I would say he's clearly a Republican. "Absolutely not!" Sutherland flashes back triumphantly. "Not a chance." Why not? "Because I'm not a Republican, and I created the character." If Bauer is supposed to be pure make-believe, then surely Sutherland's personal politics are beside the point? I get the impression that the only really consistent thread in the logic of his defence of 24 might be an intellectual motto of "Whatever it takes".
Para aqueles que gostam de desporto e não são subscritores da Sport TV - ou de qualquer outro canal pago - deixo aqui um link para um site que permite ver, em directo, as mais diferentes modalidades. Neste momento, estou a assistir ao campeonato do mundo de snooker, mas os jogos de futebol da liga portuguesa ou inglesa também lá estão disponíveis. O único senão é que nos habilitamos a ouvir o relato do Paços de Ferreira x Futebol Clube do Porto em chinês ou alemão...
Há uma polémica blogosférica aqui e aqui sobre Obama e a questão da tortura pelos serviços secretos norte-americanos.
Duas notas: a) os servicos secretos são sempre alvo de manipulações políticas, não foi Obama que inventou isso agora, como diz Nuno Gouveia no Cachimbo, isso acontece desde que eles foram inventados. Sem esquecer que eles também manipulam o poder... O último grande escândalo foi a manipulação dos serviços por parte da administração Bush para provarem a existência de armas de destruição maciça no Iraque; b) os serviços secretos (pelo menos os que funcionam), mesmo os das democracias ocidentais, não agem em função de práticas democráticas, como sugere Luís Raínha, no 5Dias: o seu papel é violar, se for preciso, as leis dos outros Estados para obterem informações valiosas que protejam o seu próprio Estado, subornando, influenciando, sabotando, fazendo o que for preciso. O mundo não é a preto e branco...
Enquanto Barack Obama desclassifica memorandos da CIA sobre tortura a suspeitos de terrorismo, mas decide não agir judicialmente contra quem ordenou e executou essas torturas (ao contrário do que prometera), Jack Bauer tortura e é julgado por torturar na 7ª série do 24.
No episódio de ontem, lá teve ele de arranjar maneira de ir assustar mais um conspirador - que entretanto ele já tinha amassado consideravelmente - com as técnicas mais agressivas de fazer perguntinhas, embora garantindo que a Presidente dos Estados Unidos não saberia de nada.
Barack Obama, na vida real - como a Presidente no 24 -, anda aos avanços e recuos: "Sobre aqueles que executaram essas operações [tortura], no âmbito das opiniões legais e das regras aprovadas pela Casa Branca, posso garantir que não haverá consequências legais" (citado no Público de hoje). "Mas no que diz respeito aos que formularam essas decisões legais, essa decisão está nas mãos do procurador-geral dentro dos parâmetros da lei - e eu não quero fazer mais juízos prévios". Depois, diz Obama que não se oporá a uma comissão de inquérito para investigar as práticas de tortura.
Na ficção, Bauer enfrenta o inquérito de um senador que o quer justamente condenar por atentado aos direitos humanos e por agir como se não vivesse num Estado de Direito. Bauer é um homem perigoso, como os homens dos serviços secretos que são treinados para serem perigosos. E que existem no mundo real.
No mundo real, como naquelas ficções, somos confrontado com o dilema do poder (decidir que sim ou que não) e o dever de garantir a segurança dos cidadãos - a todo o custo, se a situação for de emergência. Deve Bauer torturar ou matar um suspeito se isso salvar 300 vidas? Deve um operacional da CIA torturar um suspeito se isso prevenir o salvamento de centenas de pessoas? O problema é que na vida real não se sabe o futuro.
Na ficção, a coisa depende do argumentista, omnipotente, que domina os futuros. Na vida real, tudo depende do presente, do poder político, e da vontade de cada um dos protagonistas, com base em alguma experiência no passado.
Nunca esquecendo: seviços secretos como a CIA - ou como os serviços de informações externos de todos os países - não servem para uma cultura de cumprimento da lei, mas de violação da lei nos Estados estrangeiros onde estão a operar. É básico: têm de sacar segredos, comprar fontes, subornar, influenciar e se for preciso sabotar e bater. Onde é que está a linha entre a ficção e a realidade, nas histórias verdadeiras dos espiões que davam filmes?
Jack Bauer diz que é democrata (voltarei a isto noutro post). Obama aprovaria as acções de Bauer caso se deparasse com os mesmos dilemas?
Acontece que à hora a que José Sócrates dava a entrevista à RTP eu atravessava Portugal no sentido Norte-Sul. Como a fome começou a apertar, parei num restaurante, algures no Oeste, onde se serve o melhor bacalhau assado com batatas a murro em território luso, pelo menos.
Na sala de jantar, havia dois aparelhos de televisão. Dois LCD, para ser mais rigoroso. Havia casais sentados lado-a-lado para poderem ver as imagens. O ambiente era de concentração e, de tempos a tempos, de regozijo pelo que se vislumbrava na tv. "Assim vale a pena ver", comentava um comensal.
Nos dois ecrãs, Liverpool e Arsenal entregavam-se, com afinco, a um grande espectáculo de futebol. No final dos 90 minutos, aquela pequena plateia tinha testemunhado oito golaços e uma partida daquelas que reconciliam o adepto mais céptico com a arte da bola.
Enquanto isto se passava, a RTP entrevistava o José quê?
Este cartoon está no portefólio de Steve Breen, do 'The San Diego Union Tribune', que ganhou o Pulitzer na categoria "Editorial Cartooning". Este e outros trabalhos premiados estão disponíveis aqui.
Olho para o Rex e lembro-me do último relatório da OCDE, em que se previa a evolução em 2009 da dívida pública portuguesa...
Barack Obama, encharcado num comício de campanha em 2008.
Esta foto está no portefólio sobre a campanha de Obama feita por Damon Winter, do The New York Times, que venceu o Pulitzer para "Feature Photography" em 2009.
Uma visita ao site do prémio Pulitzer é uma maravilha para quem gosta de bons textos e boas fotografias. Já lá estão os vencedores deste ano e é possível ler e ver os trabalhos premiados.
O The New York Times continua a ser grande (ganhou cinco em onze).
1. Desemprego em Portugal dispara para 11% em 2010, já este ano ficará em 9,6%. 2. Economia contrai 4,1% este ano e 0,5% no próximo (a primeira instituição a prevêr contracção em 2010, se não estou em erro) 3. Contas públicas: 6% de défice em 2009 e 6,1% em 2010 (o mesmo de 2005). 4. Agravamento das previsões é global: em Espanha, a taxa de desemprego prevista para 2011 é de 19,3% (!). À primeira vista, a deterioração portuguesa está em linha com o negrume geral.
Aguardemos pela reacção do Governo – a linha oficial costuma ser a do "FMI pessimista".
E veremos se a teoria de que em ano eleitoral a crise beneficia o partido no poder não morre antes de Outubro.
A candidata californiana a Miss Estados Unidos perdeu o título porque se pronunciou contra o "casamento gay". Ter opiniões que caem fora da ditadura do politicamente correcto é algo que se paga.
Este post do Pedro Correia no Delito de Opinião, onde cita o professor Jónatas Machado, da Universidade de Coimbra, sobre a liberdade de imprensa. É aquilo mesmo e nunca é demais lembrar.
Depois de uma entrevista como a de ontem à noite, o que é que fica para todos aqueles que não são políticos nem jornalistas de política? A imagem de um homem arrogante e desafiador, menos seguro que no início do mandato, mas sem grandes dúvidas sobre coisa nenhuma. E qual é o efeito disto no eleitorado? Quem já gostava dele gostará agora mais, quem não gostava detesta-o ainda mais verdadeiramente, isto em nada muda o mapa eleitoral. O problema são os eleitores da zona cinzenta que fogem para a esquerda ou que, não o fazendo, vão abster-se. Haverá assim tantos swing voters a manter o voto em Sócrates? O que fica na memória depois de uma entrevista destas é o tom. E não me parece que este seja um tom lá muito apelativo.
Na frente da economia a entrevista feita ontem à noite ao primeiro-ministro foi muito má – não percebo como é que a RTP não tem um editor de economia que dê a cara nestas entrevistas (como na SIC), que faça uma dupla com um jornalista mais vocacionado para a política. Pareceu-me claro que os dois jornalistas da RTP não estavam à vontade nos temas económicos (eu até percebo – essa não é a praia deles): as perguntas caíram muitas vezes ao lado do essencial e o contraditório foi anémico. Neste campo o primeiro-ministro fez o que quis e ganhou um ascendente sobre os jornalistas (feito muitas vezes de uma arrogância consentida), que manteve durante o resto da entrevista.
Ainda assim foi uma oportunidade de ouvir o primeiro-ministro dizer estas duas pérolas:
1. As análises estão no site Sócrates mandou os portugueses ir ao site do ministério dos Transportes para ver as "análises custo benefício" dos grandes projectos de obras públicas. Concordo em absoluto com o que disse ontem à noite o José Gomes Ferreira, na SIC: o primeiro-ministro tem a obrigação de dizer aos portugueses quanto custam estas obras, como serão pagas, em quantos anos. Mandar as pessoas ao site do ministério das Obras Públicas para ler as "análises" escritas no melhor português-burocrático é inaceitável (o leitor tente ir ao site e encontrar as ditas). Mais: os estudos feitos são apenas isso, estudos, contrariados, de resto, por outros estudos. Já no caso do aeroporto da Ota todos percebemos da infabilidade divina destas "análises": só por si, não são um argumento definitivo.
2. A descida do IVA já teve em conta a crise Em Março de 2008 o Governo decidiu cortar um ponto percentual na taxa máxima do IVA. Este foi um sinal perigoso e errado para os portugueses – deu a ideia de descompressão nas contas públicas, de recompensa pelo esforço pedido, de que as coisas iriam melhorar numa fase em que a incerteza face ao impacto da crise já era grande. Ninguém sabia que a recessão iria ser desta dimensão, diz Sócrates. Sim, mas já era claro que haveria um impacto na economia real global – como é que isso poderia não acontecer se a crise paralisou todo o sistema financeiro? (Esta é uma das críticas que Cavaco faz no prefácio). Dizer em directo na RTP que a descida do IVA foi uma medida para estimular a economia perante a ameaça real de crise é querer reescrever o que aconteceu – a verdade é que o Governo demorou demasiado tempo a admitir a gravidade da crise, num wishful thinking que a realidade destruiu.
No resto, do que eu vi, pareceu-me o mesmo de sempre: uma medida social na manga (positiva – medidas neste plano fazem sentido e são significativas para quem delas beneficia); números e mais números sobre emprego e formação; dramatização natural do contexto global da crise.
Faltou, como sempre, falar sobre a coerência e validade daquilo que o Governo está a fazer: das medidas avulsas que não fazem um plano; da loucura de algumas obras públicas (como as estradas ou os detalhes da obra do TGV); de onde queremos estar quando a crise internacional acabar. E isto é o mais importante.
"Isto é uma provação e uma cruz que tenho de carregar". Ninguém duvida. Esta assunção não enfraquece a acção de um PM? Ouvi Saldanha Sanches dizer há umas semanas qualquer coisa como isto: com Sócrates como PM nem há condições para investigar, nem ele tem condições para governar...
Se saísse do Governo o País ficava à mercê de todas as conspiratas. Ficando no Governo ficamos como estamos. É a vida...
Judite fala dos mails, referências ao primo, dados novos. - Essa versão é a difundida na CS para me atacar. Não foi o que Cândida Almeida disse. "Não quero falar de pormenores porque não estou na investigação. A procuradoria já disse que não há nenhum membro do Governo suspeito"
"Não movi processos judiciais contra jornalistas, foi contra indivíduos que me difamaram". Claro. "O José Alberto Carvalho acha que liberdade de imprensa é difamarem-me?" "Eu tenho o direito de processar quem me injuria e difama." "São jornalistas. Vocês vêm o jornal da TVI à sexta-feira, aquilo é um telejornal feito de ódios e perseguição pessoal". Nixon disse o mesmo do Washington Post.
Sócrates denuncia a carta anónima de um dirigente do CDS. Há motivação política da carta anónima, diz Sócrates. Mas se os factos forem, por hipótese, verdadeiros, há conspiração, mas para denunciar a verdade. É claro que há conspirações para lançar falsidades - veja-se como foi agora em Inglaterra, no gabinete de Brown. Mas o vídeo: a carta anónima e o vídeo, qual a relação entre ambos? Coincidência.
Sim, agora Smith. Afinal a queixa é contra Smith. Se Sócrates tiver razão, tem de facto razão. O que Smith disse foi um insulto. Por que é que ele ia insultar Sócrates na circunstância em que estava? Só se ficou ele, Smith, com o dinheiro... Se a investigação não chegar a uma conclusão como esta, dificilmente cessará a dúvida.
Sócrates não sabe o que Judite quer dizer o que é pôr as mãos no fogo por alguém. Sim, tb sou responsável pelas decisões dos secretários de Estado. Sócrates diz que a investigação deve punir que usou o nome dele para fins que não são lícitos, apra obter vantagens. O primo?
Não percebe o que o Ministério Público anda a investigar? Um caso de corrupção. Grande perspicácia. E há quem diga que o corrupto é ele. A pergunta do Charles Smith, vá, a pergunta do Smith!
Chegámos ao Freeport. Sócrates diz que pode garantir que o licenciamento do Freeport cumpre todos os aspectos legais. Já sabíamos. Não é isso que está em causa.
"A grande resposta à crise foram as medidas sociais ao longo dos últimos anos". Sócrates diz que não há nenhum idoso em Portugal que tenha rendimento abaixo do limiar da pobreza, que não possa pedir o complemento solidário para idosos. Sim, quer dizer que já não são pobres? Mais 80 euros. É um bocadinho melhor do que nada.
Há 12 mil pessoas empregadas em IPSS, ao fim de três meses. é positivo, se for verdade. Mais 9 mil jovens contratados sem termo. Fomos o primeiro país a definir plano de ajuda à indústria automóvel. Diz que são 3.400 trabalhadores, diz Sócrates, "não quer ouvir este número"? A Autoeuropa vai entrar em lay-off, diz o Zé Alberto. O Boss responde: mas sabe o que é o lay-off? Arrogância...
"Em primeiro lugar temos de executar as medidas que decidimos tomar".´ É correcto, com a "humildade" para corrigir se não funcionarem. Mas alguém se lembra da longa lista de medidas anti-crise? Alguém consegue escrutinar a chuva de medidas que já foram anunciadas? Estão elencadas nalgum lado?
Sobre o reconhecimento da crise, Sócrates tem uma amnésia dias-loureirista e os jornalistas não estão artilhados com as declarações prévias e irresponsáveis do ministro das Finanças e da Economia. Trabalho de casa...
Sócrates em 27 de Outubro de 2008 disse que "vivemos a maior crise das nossas vidas e corremos o risco de mais grave recessão". Isto foi depois da falência da Lehman Brothers.... Quando as sirenes já estavam todas ligadas!
Sócrates não dá por adquirido que Cavaco seja contra os grandes investimentos. Diz que as análises de custo/benefício estão no site. E que dantes é que se fazia estradas sem essas análises. Quando? No tempo do cavaquismo? Esta foi bem dada.
Encontra semelhanças entre o discurso do PR e a líder da oposição? Responde Sócrates: O PR não se vai deixar instrumentalizar pela oposição e não se deixará envolver no jogo político. Sócrates fala com procuração de Cavaco? Cavaco deve adorar...
"Não ponha na boca do PR o que são as suas interpretações", diz o Boss quando Judite sugere que Cavaco tem dúvidas sobre as grandes obras. Não é honesto. Cavaco não tem só dúvidas. Ele não concorda.
Sócrates diz que o PR não se referia ao Governo no seu discurso. Presumo que se referisse à oposição, portanto. Oou ao Zé dos Anzóis. Sócrates diz que as divergências como PR são claras. E cita os diplomas vetados. Significa que, para além dos diplomas vetados concordam com tudo? Não me parece convincente.
«A confirmar-se, estamos perante uma situação muito grave, que põe em causa os direitos fundamentais, a intimidade da vida privada das pessoas e a protecção dos dados pessoais de todos os portugueses. (...) É uma atitude que afecta a vida privada dos cidadãos. Permite que seja vasculhada a sua vida privada e isso num Estado de Direito não pode acontecer»
Tiago Silveira, secretário de Estado da Justiça, à Lusa, reagindo ao facto de a Ordem dos Notários ter enviado um e-mail a todos os cartórios, pedindo informações solicitadas por um jornalista sobre as escrituras realizadas por José Sócrates e a mãe. 18v no índice democracia e transparência só são importantes quando me interessam e ao meu chefe
Nota: é extraordinário como estes democratas de pacotilha terão a lata de andar de cravo ao peito no próximo sábado. A mim, isto deixa-me doente. Que eu saiba, essas escrituras têm nome e sobrenome: escrituras públicas. Logo, leia-se, públicas. E se são públicas é por alguma razão. Se o Tiago Silveira pode andar de cravo ao peito no dia 25, deve lembrar-se que a liberdade de imprensa e a o jornalismo de investigação só são possíveis agora, assim como a responsabilização dos governantes e a obrigação de prestarem contas. Antes sim, era vasculhar.
O título do post em baixo também podia ser este. Um homem montra, que mostra o que quer mostrar, à distância, como um manequim com o vidro a separá-lo de quem observa, lá longe, e o casaco bem ajustadinho por alfinentes nas costas, que ninguém vê. Seria injusto para Sócrates dizer que os outros primeiros-ministros não eram assim. Também eram homens-montra. Mas ele é muito, muito homem-montra.
Se a frase de Sócrates contra a “política de recados” não era dirigida aos recados de Cavaco Silva no dia anterior, também não devia ter a ver com a oposição, porque os opositores do Governo não costumam mandar recados, até são muito contundentes na crítica, faça-se-lhes essa justiça – como bem notou ontem o Filipe Santos Costa na SIC.
Veremos hoje na entrevista à RTP para quem eram os recados, afinal; ou se o primeiro-ministro continua a achar que o caso Freeport é uma insidiosa campanha negra - talvez, quem sabe, montada por cidadãos da pérfida Albion que o queriam tramar em gravações clandestinas, não se percebe muito bem por que razão...
Veremos hoje na entrevista qual a política de recados do PM (para o PGR, para o PR, etc). E já agora para o País, porque a crise não pára e já dexámos de perceber se de todo este movimento do Governo resulta em alguma acção.
Adenda: este anúncio fictício foi criado por Gonçalo Morais Leitão, na agência de publicidade Strat, para um artigo que escrevi há quatro anos para Sábado, sobre os valores que representavam os candidatos às legislativas de 2005. O artigo nunca foi publicado e o anúncio também não.
A agência Lusa publica hoje testemunhos de jornalistas estrangeiros que estiveram em Portugal para cobrir o 25 de Abril e os meses a seguir à revolução. A um jornalista brasileiro a Lusa deve ter perguntado o que era importante nessa altura. «"O que era mais importante nessa altura?", interroga, logo respondendo: "Só havia coisas importantes"».
Ao ler isto fiz um esforço titânico para me lembrar do telejornal de ontem à noite, recheado de não notícias, de coisas nada importantes: Sócrates nas Novas Fronteiras a enviar recados para os recados dos outros; Portas não sei onde a criticar a subida das contribuições pelos agricultores; Jerónimo em parte incerta, perante uma audiência grisalha, a criticar o governo.
A estabilidade política é boa, sim, mas amolece. E traz muito lixo agarrado.
Se isto é falar verdade - meter mulheres nas listas para cumprirem as quotas e depois renunciarem -, vou ali e já venho. Quando um político põe a palavra "VERDADE" como a primeira do seu léxico e da sua campanha, corre grandes riscos... Mas, como é evidente, Manuela Ferreira Leite nunca leu Maquiavel.
A divulgação do vídeo na TVI, sexta-feira, onde Charles Smith diz que Sócrates é corrupto mata toda a tese da cabala, da maquinação e da campanha negra, da insídia e da ofensa.
Um escocês a falar com um inglês - onde o escocês não sabe que está a ser filmado pelo inglês - sobre um português que terá recebido umas massas, não é uma conspiração política. É um escocês a falar com um inglês. E não parece que o escocês esteja a tentar safar-se de uma manigância que fez para tratar dos interesses do inglês. O escocês assume a trambicância. Explica como trambicou. Tudo muito grave. E sem qualquer conotação política, porque aquela conversa não é suposto ter fins políticos. Se há conspiração, é da parte dos conspiradores que querem pôr isto cá fora, claro, para destruir Sócrates, claro, quem ficaria indiferente a uma coisa destas? As dúvidas agora são só estas: Smith deu o dinheiro a alguém? A quem? Onde é que o dinheiro chegou? Ou ficou com ele?
Se a investigação ainda não tratou de ir às contas de todos os que podem estar implicados, não podemos confiar na investigação nem na justiça portuguesa.
O caso, como escreve Mário Crespo, tem muitos pontos de contacto com o Watergate: as gravações, o envolvimento do líder do Executivo, as obstruções à investigação e à justiça. Se não for até ao fim, se o caso morrer na praia, se não ficar provado que Sócrates é inocente, que os seus mais próximos colaboradores são inocentes, que tios e primos são inocentes, é melhor fazer as malas e ir embora desta piolheira.
18 abril 2009
:: Guarda-freio: João Cândido da Silva
Tendo em consideração que o Estado decide, todos os anos, que destino dar a uma soma em dinheiro que corresponde a metade do produto interno bruto, tenho as maiores dúvidas que o apelo de Cavaco Silva sobre a necessidade de distanciamento e independência de banqueiros e empresários em relação ao Governo não caia em saco roto.
Sobre os recados, em tom duro, dirigidos ao Governo, parecem ser um aviso de que a paciência do Presidente da República para tolerar, em silêncio, algumas tácticas destinadas a aparentar resultados de medidas decididas pelo Executivo, se esgotou. Um pouco tarde, ainda assim, porque já houve ocasiões anteriores em que Cavaco Silva devia ter dado sinais de que não é uma mera figura de cera no cenário político.
Piratas ao largo da Somália, piratas na internet, piratas que tentam entrar na rede eléctrica norte-americana, Piratas das Caraíbas, piratas piratas piratas.
Percebo o princípio básico de que é necessário pagar pelos conteúdos (que palavra, esta) consumidos: filmes, música, livros, notícias, etc. Está ali trabalho que é preciso remunerar, investimento e esforço, património e serviço público. Mas, concordo em boa parte com o que escreve o Luís Afonso: perante a inovação tecnológica tão grande dos últimos anos, que dá acesso fácil e gratuito aos 'conteúdos', estas indústrias da propriedade intelectual terão que mudar.
E é aqui que a pirataria - eticamente condenável, sim - desempenha o seu papel. É no jogo de forças entre as editoras/estúdios/músicos/etc. e os piratas (que são consumidores, é bom lembrar) que nasce a evolução no mercado que poderá beneficiar toda a gente. É sempre assim: primeiro há a inovação tecnológica; quem está instalado no mercado resiste; há a pressão de quem compra; quem vende tem de mudar; o mercado fica diferente.
Na música isto é claro: os músicos terão de fazer mais concertos, lançar packs especiais para o mercado e vender música mais barata (se calhar, terão de livrar-se da editora ou, pelo menos, de renegociar). Vão ter de fazer pela vida. Para mim, consumidor de música, isto são boas notícias.
Uma pequena perplexidade em relação à proposta do Governo para taxar a 60% os bens patrimoniais não justificados nas declarações fiscais dos contribuintes: estamos a falar, portanto - e faço fé no que vem no Público de hoje - dos bens e rendimentos que os contribuintes declaram. Ora, se declaram, há uma probabilidade interessante de os conseguirem justificar. Caso contrário, nem os declaravam.
Dá-me ideia que o problema é aquilo que alguns contribuintes não declaram.
E para aquilo que não é declarado, os sinais exteriores de riqueza - o que é verdadeiramente importante -, já existe legislação que permite acesso às contas bancárias. Namorar o eleitorado de esquerda oblige. Sócrates está obrigado a fazer parecer que se está a entrar em força no combate à corrupção...
Não podemos esquecer que Sócrates não pode entrar em camapanha eleitoral com a imagem de alguém que não fez tudo o que podia para combater a corrupção, a fuga ao fisco, enfim, a manigância... É a política, estúpido, é a política!
Ele não só vê os mortos, como se encontra com eles, não em qualquer lugar, mas em privado. E não foi um jornal sensacionalista a dar a história. Este estranho título vem no Washington Post de hoje:
É como quem diz: podes enriquecer à fartazana com tráfico sabe-se lá de quê, que desde que pagues a contribuiçãozinha está tudo bem, ganhamos todos com isso. António Filipe, deputado do PCP, faz esta observação com ironia e propriedade no Twitter:
AntonioFilipe Para o Gov. o enriquecimento injustificado não é ilícito, mas é taxado a 60%. Ou seja: ou há moralidade, ou o fisco também come.
Todas as boas medidas, mesmo as mais necessárias, são medalhas com reverso. A derrogação do sigilo bancário para combater a fraude fiscal que o Bloco de Esquerda apresentou hoje na Assembleia, que tem o voto do PS e concordância do PR, é uma medida de higiene que há muito fazia falta a este país (aqui). Ao mesmo tempo, o enriquecimento ilícito também merece um enquadramento legal que vá além da "penalização fiscal agravada do enriquecimento patrimonial injustificado de especial gravidade", que o Governo apresentou hoje.
Dito isto, o reverso destas medidas também deve preocupar-nos: quais são os meios de protecção do cidadão que pode ser vítima de abusos da administração fiscal e vítima de devassa por parte do Estado? Um equilíbrio que não dê excesso de garantias nem excesso de liberdade à administração, será difícil de encontrar. Acho que depois de implementadas estas medidas vão dar muito que falar.
«Se houver um esforço grande de coordenação, uma amnistia fiscal global pode ser implementada e permitir que os capitais que estão nos offshores por razões de ordem fiscal e não por razões ilícitas, possam reemergir e até serem investidos em fundos de investimento que possam ajudar países em desenvolvimento».
Ricardo Salgado, presidente do BES, no Jornal de Negócios
Pasmo. Encaixa no espírito deste tempo a declaração de boa vontade de Ricardo Salgado para se acabarem com os offshores, mas também bate certo com a operação de charme e imagem que os banqueiros são obrigados a fazer por causa do mesmo espírito do tempo. Adaptação, darwinismo, saber viver num novo ambiente. É inteligente.
Mas pasmo. E pasmo sobretudo com a declaração de que há capitais nos offshorespor razões de ordem fiscal e não por razões ilícitas. Parece que não é ilegal. Mas não sei se é lícito. Eu pago impostos obrigado. A minha empresa paga impostos obrigada. Impostos são tão certos como a morte - preferia não os pagar, preferia não morrer - mas há quem engane os impostos licitamente, embora não enganando a morte, está claro, isso é mais difícil. Se eu recusar pagar impostos inshore não é lícito, pois não?...
Visita guiada a apartamentos de luxo em Tróia. Muito vidro, muitas linhas rectas, muita transparência. Muita cagança moderna. De repente, eis que aparece um quarto com um vidro grande na parede que dá para o duche.
O meu guia de visita, um velho amigo, conta-me então uma conversa que teve meses atrás com um dos fornecedores da obra, um homem acima dos 50, que perguntou o que seria posto ali, no buraco da parede entre o quarto e a casa de banho. "Um vidro", foi a resposta. "Um vidro? Mas opaco?", perguntou o homem. Não, um vidro transparente. "Já viu, se viesse para aqui o senhor poderia ver a sua mulher a tomar banho", disse o meu amigo, tentando quebrar a perplexidade do homem. "Ó sr. engº, a ÚLTIMA coisa que eu queria era ver a MINHA mulher a tomar banho!".
Coisas em que as cabeças da transparência não pensam.
Na próxima sexta-feira, o maior site de acesso a conteúdos multimédia "ilegais" vai conhecer o veredicto do julgamento de que é alvo. Seja qual for o resultado da justiça Sueca, penso que o mais importante é o debate que tem sido gerado à volta do tema e a forma como a indústria e, em especial, os artistas olham para o panorama actual da venda de música. Actualmente, 95% da música que é descarregada da internet é feita de forma ilegal. Já toda a gente percebeu que não vale a pena fechar os olhos a esta realidade, nem tentar fechar sites como o Napster porque no dia seguinte abrem-se outras portas com a mesma finalidade. A indústria, como sempre, avessa a mudanças, tarda em reagir. Sites como o iTunes ou a Amazon continuam a ganhar dinheiro com o acesso a downloads pagos mas, na minha opinião, esse modelo está condenado ao insucesso. Os artistas, por outro lado, sempre abertos à mudança, ao improviso e elasticidade, em suma, ao acto da criação, já começaram a mudar e a arranjar maneiras de vender aos seus fãs algo mais do que um simples ficheiro musical que pode ser descarregado à borla ali ao lado... E penso que muito passará pela forma como a música será apresentada, pelo packaging que a suporta, pelos extras e pelo acesso a conteúdo exclusivo. Casos de sucesso a seguir esta política já existem. Os Radiohead lançaram o seu último álbum na net com a seguinte frase: "It’s Up To You. No Really, It’s Up To You". Cabia aos fãs decidir o que pagar. E o que ofereciam eram ficheiros a 320kbps livres de direitos. O resultado foi a maior venda de sempre de um álbum de Radiohead, tendo a cópia física de "In Rainbows" que foi colocada no mercado posteriormente superado os 1,75 milhões de vendas. Os Coldplay lançaram o primeiro single do seu novo álbum em exclusivo na net uma semana antes da estreia do disco nas prateleiras das lojas. O resultado? "Violet Hill" foi o primeiro single da banda a entrar directamente para o número 1 do top britânico. Mas os verdadeiros “trailblazers” são os Nine Inch Nails. A sua proximidade com os fãs é inigualável. Desde deixar pens USB com conteúdos exclusivos nos WCs dos seus concertos a criar sites de acesso secreto só para fãs, o álbum mais recente da banda foi distribuído numa grande variedade de formatos. Entre as escolhas estavam: download gratuito das primeiras 9 faixas, o álbum inteiro por 5 dólares (36 faixas) ou uma edição de luxo assinada e limitada a 2500 cópias a 300 dólares a peça. O resultado? A edição de luxo esgotou em menos de dois dias e o álbum angariou qualquer coisa como 1,6 milhões de dólares nas primeiras semanas de venda. Dá que pensar, não dá?
O PSD, que teve semanas para anunciar o nome do cabeça de lista às europeias, escolheu o dia de ontem para dizer ao país que o candidato é Rangel – o mesmo dia em que o governador do Banco de Portugal divulgou números historicamente depressivos para a economia em 2009. O candidato Rangel foi remetido para a mais pura irrelevância, afogado pelos títulos da "maior crise económica da democracia".
Como explicar?
Uma teoria possível: o PSD não sabe o que anda a fazer. Outra teoria: o PSD anunciou Rangel neste dia porque queria que ninguém desse por ele. Outra ainda: o PSD acha que sabe o que está a fazer e pensou que anunciar Rangel neste dia traria uma qualquer vantagem política (Rangel falou ontem sobre a crise).
Eu inclino-me para a terceira, o que equivale a meter o meu dinheiro na primeira: infelizmente, estas pessoas não sabem o que andam a fazer.
Em si mesmo, Paulo Rangel é um bom candidato do PSD às europeias. Tem dado provas de boas qualidades políticas como líder parlamentar, ao colocar sempre José Sócrates debaixo de grande pressão nos debates quinzenais. O contexto é que não é o melhor. José Manuel Fernandes coloca bem a questão hoje, no Púbico (sem link). Tendo em conta a conjuntura - crise profunda, desgaste da imagem do PM, clima de descrença -, o PSD teria a obrigação de ganhar as europeias. Seria o cartão amarelo ao Governo. JMF lembra que nas duas últimas europeias, Pacheco Pereira teve 31,1% contra 43,1% de Soares, em 1999, com o PS no Governo. E Deus Pinheiro (coligado com o CDS) só teve 33,3% e o PS 44,5% (com o PSD/CDS no Governo), em 2004.
O problema para o PSD é que uma derrota - ou um resultado abaixo das europeias dos últimos 10 anos - deixa o partido ainda mais anémico. E Rangel não poderá ser responsabilizado por isso, porque é residual o número de eleitores que vota no cabeça de lista. As pessoas votam nos partidos, em função das respectivas lideranças. Ou aprovam, ou castigam. E aqui a elevada abstenção tende a penalizar o centro. Se o eleitorado não castigar Sócrates em Junho, o castigo recairá sobre Manuela Ferreira Leite, pela seguinte razão: em 1999, as europeias também se realizaram perto das legislativas e os resultados de ambas as eleições foram parecidos; já em 2004, a penalização do governo do PSD nas europeias teve a ver com o facto de estarmos a meio de uma legislatura. Ou seja, se o PSD tiver um resultado sofrível nas europeias, será ainda pior nas legislativas. O "passos-coelhismo" deve andar a afiar as facas...
No fundo, o que um chama ao outro, chama o outro ao primeiro. A isto chamam-se homónimos. Mas conseguir que um cão diga o seu nome e o do dono ao mesmo tempo é muita fruta.
Enquanto desenhava o cenário da desgraça da economia portuguesa em 2009, Vítor Constâncio teve tempo para reenviar um recado ao Governo: gastem, sim, mas com cuidado e, por favor, mostrem aos portugueses como vão depois corrigir o que estão a gastar.
Mostrem um calendário, digam que medidas são temporárias e quando acabam. Anunciem "medidas de compensação em receita ou despesa" (uma pérola na arte do eufemismo = a mais impostos, mais venda de património, menos despesa pública, menos investimento público).
Constâncio não falou dos planos de investimento público do Governo – "apenas dos pacotes de estímulo", como se o resto não fosse também para martelar a crise – mas aqui no Elevador acrescentamos o tema ao recado do governador.
Bom seria usar o dinheiro para aguentar o drama social do desemprego e adiantar as despesas possíveis (como o que o Governo fez com as escolas). O resto – essa ideia peregrina de que com investimento público 'titânico' uma pequena economia aberta como a portuguesa pode combater o tsunami que vem de fora – é lixo. Daquele que pode muito bem gerar uma crise orçamental, lá à frente, na curva.
Como se esperava, a revisão feita pelo Banco de Portugal foi brutal: a economia cai 3,5% este ano, afundada por uma queda nunca antes vista das exportações e do investimento.
Claro que há a outra questão – quando toda a gente estava a crescer, numa das épocas mais douradas para a economia mundial (até 2002-2007), Portugal estava em "crise". Aí sim, falemos da crónica incapacidade política e da miopia dos últimos governos portugueses, incluíndo, claro, o de maioria socialista.
A questão inteligente não está tanto em saber quem culpar pela crise. Está sim em exigir que quando a retoma europeia começar Portugal não esteja tão enterrado em dívida, em elefantes brancos e em reformas cosméticas que não consiga, de novo, acompanhar os bons tempos lá fora.
"Inteiramente gratuito, eis o guia com que sempre sonhou", por João Miguel Tavares, no "Diário de Notícias", sobre a justiça, o jornalismo e os debates sobre estes dois temas que costumam acontecer a pretexto de "todos os casos que em Portugal começam com a palavra 'caso'".
Em Vals, nos Alpes suíços, do arquitecto Peter Zumthor, que ganhou ontem o prémio Pritzker.
Diz o Times: "He is not a celebrity architect, not one of the names that show up on shortlists for museums and concert hall projects or known beyond architecture circles. He hasn’t designed many buildings; the one he is best known for is a thermal spa in an Alpine commune. And he has toiled in relative obscurity for the last 30 years in a remote village in the Swiss mountains."
Alguns guardas do Elevador já lá estiveram perto, mas não seguiram uma dica iluminada, tendo preferido uma comezaina em Gruyère, musicol em Montreux e compras em Ascona. Assim se revela o visigodo interior.
É uma expressão muito portuguesa, esta, "matar o tempo", com que dei na entrevista de Antonio Tabucchi à revista "Ler" deste mês. "Matar o tempo" é uma utopia, uma impossibilidade, já que o tempo não se mata, está lá sempre, a passar, e a levar-nos com ele. Nós é que podemos aproximar-nos mais da morte, sem o saber, levados na corrente desses tempos mortos, não aproveitando o tempo todo, tendo a ilusão que só deixá-lo passar é matá-lo.
No PSD, Manuela Ferreira Leite mata o tempo enquanto não se dá conta que o tempo perdido pode ser fatal para a sua liderança e para o partido. Em política não se mata tempo, porque não há tempos mortos. Alguém os ocupa
Esta coisa de adiar até ao limite o anúncio do cabeça de lista para as eleições eupropeias (aqui e aqui), mostra bem como Manuela gere politicamente. Ela mata o tempo enquanto o tempo mata o partido. Os tempos mortos em política são ocupados ou pelos concorrentes ou pelas quezílias reais ou imaginárias - com projecção no espaço público - que alastram por onde está o vazio. A política tem ritmos, ritos, tempos que caso se deixem morrer, depois não se recuperam. As oportunidades perdidas assim permanecem. Nem quando Marcelo caiu e foi preciso refazer as listas europeias se anunciou o cabeça de lista tão tarde. O PSD tem obrigação de ganhar as eleições europeias. Se perder, alguém acredita que poderá ter um resultado honroso nas legislativas? Se um partido fundamental perde tempo, também perde o País.
Pequim, 2003. Voltei da capital da pneumonia atípica para encontrar uma histeria sem precedentes nos media portugueses e mundiais. O tema merecia muita atenção, claro, mas o tom era muitas vezes mal informado e de desgraça iminente.
No outro dia estava ao telefone com alguém em Londres, no dia da cimeira do G20, que me contava que a cidade estava no seu estilo habitual. Os confrontos – que segundo li "assolaram Londres", "puseram a cidade a ferro e fogo" – estavam, afinal, confinados à City. As imagens são fortes, os títulos dos que lá estão (as agências) também e o jornalista está sentado à secretária – no final, o leitor passa por histórias de um mundo que não existe.
Suspeito que com as manifestações na Tailândia se esteja a passar o mesmo. Neste blogue está o melhor texto que li sobre a turbulência tailandesa (que existe, claro) – o homem está lá (e 'lá' não é no hotel), arrisca, conhece o país, sabe do que fala, dá a sua opinião. Parece não gostar muito dos "meios de comunicação social", mas aqui no Elevador não se lhe leva isso a mal. Que continue a postar em bom nível!
É hábito ouvir-se apelidar de demagógico o simples, mas essencial, exercício de debater em que aplicar o dinheiro. Se os recursos do país fossem ilimitados, compreender-se-ia que a discussão não teria interesse nenhum.
Mas como Portugal tem um grave problema de gastar aquilo que tem e aquilo que não tem, seria interessante e, até, fundamental, debater as escolhas. Por exemplo: devem construir-se mais auto-estradas e o TGV ou investir no ensino universitário que, pelos vistos, nem sequer tem meios para pagar salários?
"À emboscada", por Rui Moreira, no "Público", sobre as iniciativas de caça à multa que proporcionam receitas e inibições de conduzir mas que não têm quaisquer efeitos na segurança rodoviária.
10 abril 2009
:: Guarda-freio: João Cândido da Silva
"Este país progride como alguém que cai de um 20º andar./ (Se não existisse o solo ninguém pararia o seu avanço)./ Em frente, pois, isto é: para baixo!"
"O Senhor Breton e a Entrevista", de Gonçalo M. Tavares
“Foi tudo anunciado com pompa e circunstância, mas até agora nenhuma medida foi levada à prática”, diz o administrador da SAG, Fernando Monteiro, sobre as promessas do Governo para apoiar o sector automóvel.
"O 11 de Março tinha sido o dia da nacionalização da banca e eu, na minha ingenuidade, achei que ia ao Stones e que estava tudo na mesma." José Maria Ricciardi, ao Jornal de Negócios
"Independência é preciso", por Pedro Lomba, no "Diário de Notícias", sobre as pressões no "caso Freeport" e a menorização a que José Sócrates remeteu o Ministério Público ao qualificar a investigação como uma campanha negra para ser tratada no mero terreno da política.
"A falta de higiene democrática não mata mas deixa ferida", por Nuno Garoupa, no "Jornal de Negócios", sobre a confusão entre justiça e política que, em Portugal como em Espanha, lançam o descrédito sobre o edifício da justiça e do poder judicial, em particular.
"Vão ver que não custa nada", por João Duque, no "Diário Económico", sobre a displicência com que no actual Governo é encarada a relação entre custos e benefícios no projecto megalómano da ferrovia de alta velocidade.
"Os novos criminosos", por Tiago Caiado Ribeiro, no "Diário Económico", sobre a violência cega com que o Fisco trata toda e qualquer infracção fiscal.
"Onde investimos, onde chegámos", por Manuel Caldeira Cabral, no "Jornal de Negócios", sobre a proliferação de centros comerciais ao longo dos últimos anos, enquanto os centros históricos das cidades, bem como o respectivo comércio, iam definhando.
Primeiro: confundi a Igreja da Encarnação, no Chiado, com a Igreja do Bairro da Encarnação, nos Olivais que de próximo só têm o nome e ficam cada uma na sua ponta de Lisboa. Portanto, não falei com quem devia falar à hora que tinha combinado, e gastei duas viagens de táxi inúteis. Duas não. Uma. Porque a segunda viagem foi, não sei se um mistério, se uma excepção na vida moderna. O taxista estava a ler um livro (não fixei o título) que conta a história quase toda de África. A seguir ia ler o Equador do Miguel Sousa Tavares. Já tinha lido alguns livros duas vezes, para perceber bem o que lá estava. Conhecia o nome dos generais de Junot, que funções tinham e por que fronteira tinham entrado em Portugal. Debitava datas. Atirava nomes. Conhece? Não... E este assim e assim, sabe quem é? Pois, pois..., respondia eu. "Pois", porque "pois" tanto dá para sim como para não e já se sabe que os taxistas depois páram na praça e lá vai disto, acabei de dar uma lição a um doutor, eles hoje tiram cursos e não sabem nada, eu não estudei e sei mais do que eles, já se sabe que os taxistas falam assim. Parou à minha porta. E passou a contar como fulano de tal tinha entrado no Governo de Salazar, opinou sobre a Igreja e a Inquisição, falou dos militares e da Rádio Renascença depois do 25 de Abril, mais os 90 jornais que ele tem guardados lá em casa, porque há jornais que não se deitam fora, como aquele, mais recente, com a entrevista do general Pires Veloso sobre o 25 de Novembro, ou um velho Correio da Manhã com uma entrevista a Salgado Zenha muito zangado com Mário Soares. Paguei 7.65 euros. Estava uma fila enorme, carros, autocarros parados até ao fim da rua, e o meu historiador a contar histórias. Apitavam.
Paulo Portas precisava de vagar lugares no seu grupo parlamentar para, nas legislativas, colocar algumas caras novas na bancada e refrescar as faces mais evidentes do portismo. Mandar Nuno Melo, Diogo Feio e Teresa Caeiro para Estrasburgo e Bruxelas é o preço a pagar: recompensa-os pelo trabalho feito ao longo dos últimos anos, mas nas europeias não fugirá à crítica de serem sempre os mesmos, sempre os mesmos portistas de sempre (pelo menos não é o próprio Paulo Portas e só isso já não é mau)... Daqui a uns meses, terá oportunidade de abrir o CDS à novidade nas listas para as autárquicas (Lisboa, sobretudo), para depois lançar nomes mais frescos nas legislativas. Veremos se cumpre, ou se este CDS não tem emenda.
"Beforehand minds had drifted back to Jose Mourinho's success in knocking out United here in 2004 but the contemporary Porto are more than a tribute band version of his ensemble."
"O governador do Banco de Portugal afirmou hoje que a dívida das famílias portuguesas à banca atingiu, em 2008, os 120 por cento do rendimento disponível." [Lusa]
Diz a Reuters: "Solbes, 66, had frequently expressed a wish to retire and had also publicly contradicted Zapatero when the prime minister said he could further boost public spending in order to revive the economy."
Em Portugal, em 2005, já Campos e Cunha tinha demonstrado uma coisa: é tramado para um chefe de Governo ter um ministro das Finanças com arestas. Back to 2009: Solbes não terá sido o último a cair com esta crise.
Cavaco Silva, como se pode ver pelo prefácio do seu novo livro “Roteiros III – 2008-2009” (aqui e aqui), alinha em pleno com o discurso da sua amiga de longa data, 'Manela' Ferreira Leite. Além do conteúdo do texto presidencial, esta frase, "é importante falar verdade aos Portugueses", não é mais do que o slogan do PSD.
Estou com o Bruno, que no post aqui em baixo diz que a loiça com Sócrates já se partiu. Mas partiu-se há muito, embora só depois do caso do Estatuto dos Açores tenha estalado o verniz. Pagava para saber o que vai na cabeça de Cavaco no que se refere ao caso Freeport, embora não seja difícil imaginar o que ele pensa. Só tem um rabo de palha, do qual já não se livra: mantém um conselheiro de Estado completamente desmemoriado quanto ao que se passou no BPN e na SLN, de cujo conselho de administração fazia parte. Enquanto mantiver a confiança em 'Manuel' Dias Loureiro nunca poderá manifestar desconfiança em relação a José Sócrates.
05 abril 2009
:: Guarda-freio: João Cândido da Silva
Wynton Marsalis não será um grande inovador, mas é um trompetista de primeira água, com um ataque poderoso e límpido, e um incansável divulgador do jazz e da recuperação das suas tradições. Sente-se bem no "mainstream" e vence os terrenos clássicos, do "ragtime" ao "swing" e ao "bop", com enorme mestria e bom gosto.
É uma viagem por todos estes estilos, tocados de forma impecável, que se pode encontrar em "He and She", o seu mais recente trabalho. O trompete de Marsalis encontra uma concorrência competente e inspirada nos saxofones de Walter Blanding e no piano de Dan Nimmer, assentes na estrutura sólida construída pelo contrabaixo de Carlos Henriquez e na bateria de Ali Jackson.
"The Silence of Love", dos Headless Heroes, contém pouco mais de meia hora de música. Mas são cerca de 33 minutos de satisfação garantida. A voz é assegurada pela nova coqueluche da folk, Alela Diane, que também tem por aí um novo disco, "To Be Still", que se se recomenda.
Em "The Silence of Love", o conteúdo são dez versões de temas já conhecidos, da autoria de nomes consagrados como Nick Cave ou Vashti Bunyan. A matéria-prima é de boa qualidade e os Headless Heroes refazem-na, como já foi assinalado no "Y", ao ponto de se poder pensar que se trata de um álbum de originais.
O mestre das canções feitas para tocar debaixo do alpendre, ao serão, rodeado de amigos, está de volta. "Roll On" não traz nada de novo à obra de JJ Cale. E é por isso que se trata de mais um disco a não perder, em que o guitarrista faz aquilo em que é excelente.
Por junto, são mais 12 temas que vagueiam, de forma descontraída, entre os blues, o jazz, a folk e a "country", tocados com grande sabedoria e "swing" e cantados com a serenidade de quem não tem pressas para nada. Alguns dos temas arrancam em "fade in", num sinal evdente de que ouve muito divertimento e paixão pelo improviso durante as sessões que deram origem ao álbum. E é esse gosto por tocar e fazer música que se transmite a quem escute "Roll On".
Vale a pena ler "As pressões no 'caso Freeport'", de Marcos Perestrelo, texto publicado na edição de ontem no "Expresso". Para o deputado socialista, o que é importante é a forma como a investigação foi originada, parecendo que todas as dúvidas que envolvem a actuação de José Sócrates e as denúncias de pressões para arquivamento rápido do processo são meros aspectos secundários nesta história. Estamos conversados.
"Tenho quase a certeza de que [a regulação e supervisão] não é das coisas que ele [Vítor Constâncio] gosta. Do que ele gosta e sabe bastante é de política monetária."
A opinião é de Jacinto Nunes, economista, ex-ministro das Finanças e ex-governador do Banco de Portugal, numa entrevista ao "Expresso". Do meu ponto de vista, trata-se de uma avaliação lúcida e certeira que explica os falhanços do banco central e de Constâncio na vigilância e prevenção de casos como o BCP, BPP e BPN. Da citação, eu só retiraria o "quase".
04 abril 2009
:: Guarda-freio: João Cândido da Silva
Para que fique registado: não conheço João Miguel Tavares. Dito isto, sou fã da coluna que assina no "Diário de Notícias", precisamente porque escreve, com muito talento, textos como este num país em que tem que se estar sempre preparado para pagar a factura por se ter a coragem de ser livre e de dizer aquilo que se pensa, sobretudo nos dias claustrofóbicos que se vivem actualmente.
Como a "alavancagem", eufemismo usado na era do "dinheiro bronco" ("dumb money") para endividamento excessivo e imprudente em operações de fusão e aquisição, mata mais jornais do que qualquer outra coisa.
A Samsung pegou num rebanho de ovelhas e "vestiu" cada um dos animais com uma rede de LED. Tudo isto para produzir um anúncio aos seus televisores. O resultado é o que se vê neste vídeo.
Guarda-freios: João Cândido da Silva Vítor Matos Bruno Faria Lopes Luís Miguel Afonso Pedro Esteves Adriano Nobre Filipe Santos Costa Ana Catarina Santos