31 janeiro 2007
:: Guarda-freio: Vìtor Matos
Manuel Pinho doutorou-se em Economia em Paris e teve aulas com um prémio Nobel. Deve ter aprendido por lá, segundo os princípios básicos da oferta da procura, que não vale a pena tentar vender gelo a esquimós.
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:: Guarda-freio: João Cândido da Silva
Manuel Pinho, o ministro da Economia que, há uns meses, decretou o fim da crise, continua em grande forma. Quando lhe colocam um microfone à frente, diz coisas. Desta vez, a propósito de atrair investimento chinês para território de Portugal, Pinho argumentou com o facto de o país, embora para sua própria desgraça, dispor dos salários mais baixos da União Europeia. Como eu escutei estas declarações hoje, logo pela manhã, enquanto me deslocava para o local de trabalho, até pensei que não tinha ouvido correctamente. Mas foi mesmo com os salários baixos que Manuel Pinho acenou aos capitalistas da China emergente. Se isto é para levar a sério, há que saber junto do primeiro-ministro, que anda a vender ao país a necessidade de apostar na qualificação dos recursos humanos e de abandonar os baixos custos do trabalho como principal factor competitivo de Portugal, o que o fez mudar de ideias. Caso se trate apenas de mais um momento brilhante protagonizado por Manuel Pinho, então pede-se a Sócrates que não remodele o ministro. Em qualquer governo, fica bem uma personalidade politicamente extravagante. Dá colorido e anima as manhãs da rádio, o que, não sendo muito, não é negligenciável.
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:: Guarda-freio: João Cândido da Silva
Na edição do passado fim-de-semana, o Expresso citava uma fonte anómima do BCP que se queixava, amargamente, de o Banco de Portugal ter comprometido o sucesso da oferta pública de aquisição sobre o BPI. Pelo meio, ficavam insinuações de que o banco central, liderado por um antigo quadro do BPI, não estaria a ser imparcial, ao autorizar o La Caixa a aumentar a sua participação na instituição liderada por Fernando Ulrich. Em circunstâncias normais, Vítor Constâncio podia, e devia, ter-se limitado a ignorar as acusações que lhe foram dirigidas por um (potencial) mau perdedor. E em circunstâncias anormais, como são as actuais, também. Mas o governador acusou o toque que, entre outros efeitos, era precisamente o que a tal fonte anónima e cirúrgica, na tradição do fundador do BCP, Jorge Jardim Gonçalves, pretendia. O que surpreende é que o Banco de Portugal e, sobretudo, o seu líder, imperturbável em relação a muitos outros acontecimentos de relevo, alguns envolvendo investigações judiciais a instituições financeiras sobre as quais detém a tutela de supervisão, tenha emitido um comunicado e realizado uma conferência de imprensa sobre a matéria. Tudo isto para garantir que o banco central tem actuado com imparcialidade. A esta hora, a sibilina fonte anónima deve estar a divertir-se com o incómodo de Constâncio. Merece o prémio.
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:: Guarda-freio: Vìtor Matos
Entre uma e mais outra cerveja, e mais uma e mais outra pint, a gente de Dublin só fuma fora do pub, ao frio. Até há televisões nas janelas para entreter os nicotinómanos. Mesmo assim, sem fumo, o calor nos bares irlandeses sobrelotados é mau de aguentar. Ora, ontem, a Comissão Europeia lançou um livro verde onde recomenda o fim do fumo em lugares fechados (entre outros). Parece-me bem. Em Portugal, tenha o Governo coragem, e a moda há-de chegar. Nos pubs de Temple Bar os irlandeses não parecem mais infelizes por isso. Continuam a divertir-se à brava. O João Cândido ( ver este post), um fumador, também não começou a ressacar enquanto esteve em Roma num clube de jazz sem fumo. Os viciados habituam-se, e toda a gente agradece.
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30 janeiro 2007
:: Guarda-freio: Vìtor Matos
Em Dublin, o frio provoca as reacções normais nos seres humanos quase todos. Quase. Porque depois há os outros. Podem estar quase zero graus, que em Temple Bar, a zona dos pubs, haveremos sempre de encontrar miúdas de manga cava e mini saia, a tiritar incompreensivelmente de frio na rua à procura do lugar ideal para se encharcarem em pints de Guiness. Algumas passam por este sofrimento para mostrar uns pedaços de carnes frias que mais valia esconderem (esperem, meus amigos, haverá fotos no regresso do elevador)... Mais impressionante foi o que encontrei a 10 quilómetros da cidade, quando tentei ir ver o Museu de James Joyce (que estava fechado). Enquanto eu tiritava de frio, cheio de camisolas, cachecol e sei lá que mais, lá ao fundo uns quantos aventureiros mergulhavam no Atlântico gelado. Aproximei-me: era um grupo de septuagenários que todos os dias dá por ali um mergulhito. Martin, o mais divertido, 76 anos, explicava: "Nunca me constipei. Quando chegamos a casa, aquecemos a fazer sexo. Ela diz-me: Já estás lavadinho, então anda cá" Pois então. A tradição dos mergulhos diários tem 140 anos e eles fazem-no há 30. Homens rijos, que eu não invejo. Minha rica lareira...
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:: Guarda-freio: Vìtor Matos
O trânsito nesta linha esteve parado durante alguns dias por motivos técnicos. Vamos retomar o tráfego do Elevador dentro de momentos. Pedimos desculpas aos utentes.
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21 janeiro 2007
:: Guarda-freio: Vìtor Matos
Este artigo de Ricardo Dias Felner no Público de hoje responde às minhas dúvidas sobre os 500 mil euros do PSD gastos no referendo ao aborto, alegadamente para esclarecer melhor os cidadãos. É a prova de que não há campanhas assépticas. O PSD faz veladamente campanha pelo "Não". Devia assumi-lo, em nome da transparência.
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:: Guarda-freio: Vìtor Matos
Suponhamos que Hillary Clinton bate Barak Obama nas primárias democratas e ganha as próximas presidenciais americanas... lamento, mas o facto de ela ser mulher, no seu caso é secundário. É mulher, sim, mas do presidente anterior ao cessante. E, já agora, o cessante é filho do que deu lugar ao marido desta. Se uma democracia tão grande e com tão grande ideia de si, é liderada durante 20 anos por apenas duas famílias, estamos falados. É uma perversão. Não é só nas monarquias que há sucessões dinásticas e aristocracias. Esta endogenia demonstra como pode ser distorcida uma democracia.
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:: Guarda-freio: Vìtor Matos
Ontem houve mais uma notícia de um homem, em Odemira, que morreu por causa da lentidão das emergências. Desta vez, tudo demorou quatro horas. Mas esta não teria sido notícia se não fosse pela anterior - do outro alentejano que esteve sete horas à espera até morrer (ver post abaixo). Infelizmente, quem conhece o Alentejo sabe que estas situações não são notícia: são o quotidiano habitual de quem lá vive e morre. É triste, dramático e diz muito do país em que nos estamos a tornar (tenho por lá avós, pais e irmão, por isso não sou indiferente ao problema).
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20 janeiro 2007
:: Guarda-freio: Vìtor Matos
Temi o pior, quando vi o director da TV Évora dizer que a televisão on-line que começava ontem as emissões experimentais se destinava a mostrar as coisas positivas do Alentejo (declaração de interesses: sou um açordeiro alentejano). Quando vi esta peça mudei de opinião. É uma notícia sobre as viaturas rápidas do INEM que prestam a primeira assistência aos doentes, por causa do caso daquele homem de Odemira que morreu por ter ficado sete horas à espera da chegada da viatura rápida. O imenso distrito de Beja só tem uma destas VMER (Viatura Médica de Emergência e Reanimação), os de Évora e de Portalegre não têm nenhuma. Os poucos que ainda têm o azar de por lá se manterem, também não têm sorte se precisarem de ajuda para não morrer.
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19 janeiro 2007
:: Guarda-freio: Vìtor Matos
Da mesma maneira que não toleram perder a face, os chineses também não têm consideração por que perde a sua com facilidade. Na China isto é levado a sério. Ao viajar para Pequim enfraquecido, (ver Público) quando o presidente e quatro ministros chineses (incluindo Estrangeiros, Comércio e Energia) estão em África, Sócrates dá uma imagem fraca de Portugal ao admitir ser recebido por segundas linhas. Ao pôr-se numa posição subalterna, será tratado como tal - e Portugal também. Vale a pena contar outra história. Quando Mário Soares era Presidente, os chineses opuseram-se à presença de Carlos Monjardino, presidente da Fundação Oriente, na comitiva oficial de uma visita de Estado. Para negociar uma solução, Soares mandou o seu assessor diplomático ficar em Pequim, à espera de uma resposta. Esta chegou ao fim de 10 dias, quando os chineses o convidaram para almoçar: Monjardino poderia ir, desde que fosse na qualidade de convidado pessoal do PR e não de presidente da FO. Ambos cederam, ninguém perdeu a face. Sócrates devia ter cancelado a visita, para não perder a face. A cimeira UE-China não havia de ficar em risco por causa disso.
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18 janeiro 2007
:: Guarda-freio: Vìtor Matos
Gente a correr, a pedalar, a furar o nevoeiro, a fugir do frio, mas no frio. Foi assim este fim-de-semana no Parque das Nações.
Foto: Vítor Matos
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:: Guarda-freio: Vìtor Matos
Os 500 mil euros que o PSD vai gastar no referendo ao aborto, mesmo sem ter opinião (ver post), vai ser gasto em acções de campanha de “apelo ao voto”, tempos de antena e colóquios, esclareceu Miguel Macedo, secretário geral dos sociais-democratas ao Público. Temos de convir que é muito dinheiro para tão pouco. Como nestas coisas não é possível ser bacteriologicamente puro, parece-me que o dr. Marques Mendes, que se diz partidário do “Não”, como a maioria dos militantes do PSD, se vai meter numa alhada. Até porque Manuela Ferreira Leite, que não é uma diletante ou uma oposicionista crónica às lideranças, já disse isto: «Quando se tem uma ideia com grande convicção e não se luta por ela é porque essa ideia não tem grande convicção ou não tem muita força». E depois acrescentou: «Há uma fuga na definição das responsabilidades do partido», afirmou, sublinhando que «um partido deve dar a entender com clareza a avaliação e o sentimento da maioria dos seus militantes».
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17 janeiro 2007
:: Guarda-freio: Vìtor Matos
O PSD não tem posição oficial sobre o aborto, mas disponibilizou 500 mil euros para a campanha (ver Diário Económico). É muita massa, para quem não tem opinião. O PS tem e gastará 598 mil, não é muito mais. Diz o PSD que o dinheiro não se destina a material de propaganda, mas a "honorários/ trabalho especializado": talvez seja montagem de palcos, pessoal de campanha, pagamento de consutores de comunicação, etc. É o mesmo. Não tendo o PSD posição oficial, parto do princípio que a massa, o guito, será distribuído equitativamente, de forma generosa, por todos os movimentos do "Sim" e do "Não". Porque será que me estou a sentir tão ingénuo?... Saber o destino da grana seria mais eloquente do que mil discursos a anunciar uma posição oficial.
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15 janeiro 2007
:: Guarda-freio: Vìtor Matos
Ficámos hoje a saber, pela SIC, que o PR não gosta de picante, depois de uma entrevista a raiar o insólito, conduzida por Raquel Alexandra ao casal presidencial Maria e Aníbal Cavaco Silva. O Presidente queixou-se do picante na comida dos indianos e até foi ele a ter a iniciativa de falar nessa "questão". Os diplomatas e o protocolo deve estar satisfeitíssimos... E os indianos também. Aliás, quando for a Itália, é melhor mandar dizer que não aprecia massa, como fez Soares antes de ir à Islândia, e o protocolo explicou que ele abominava salmão. Mas se os indianos estão a tentar apimentar Cavaco, eles lá sabem por quê...
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:: Guarda-freio: Vìtor Matos
A foto que serviu de ícone à batalha de Iwo Jima - cuja história Clint Eastwood conta de forma magistral no filme as " Bandeiras dos Nossos Pais" - remete-nos para o presente e para o uso das imagens como meio patético de propaganda política. Lembro apenas dois casos recentes, mas há muitos mais: o da estátua de Saddam a ser derrubada, que chegou a levar editorialistas portugueses ao extâse com a libertação de Bagdagd; e a proibição de mostrar soldados americanos mortos (cujo critério, de não mostrar, é o avesso do anterior, mas tem o mesmo objectivo). Na política há coisas que nunca mudam. A guerra, como defende John Keegan no livro Uma História da Guerra (ed. Tinta da China) não é só a continuação da política por outros meios. Também é a projecção de uma determinada cultura de homens em armas. Dos guerreiros americanos de Iwo Jima aos soldados no Iraque há muitas diferenças, mas um ponto é comum na cultura de ambos: todos se preocupam mais com o camarada do lado do que como futuro da nação.
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14 janeiro 2007
:: Guarda-freio: Vìtor Matos
Os portugueses parecem estar mais cultos, mas comportam-se como quando vão entregar o IRS: deixam tudo para o fim. Quinze dias antes de acabar exposição Diálogos de Vanguarda, de Amadeu Souza-Cardoso, na Gulbenkian, já havia filas enormes para entrar. Para escoar o fluxo de visitantes previstos, a fundação resolveu abrir as portas 48 horas seguidas durante o fim-de-semana, mas, logo no sábado, às 10h00, quando cheguei, aquilo estava insuportável de gente a mais. Não esperei. Fui passear pela colecção permanente. Pensei em voltar depois do cinema, à meia noite e meia. Só que no fim do filme, alguém que estava por perto atendeu o telefone e comentou: "A esta hora ainda há filas dessas na Gulbenkian?" Resultado: não fui. Disseram-me que só não houve filas entre as seis e as sete da manhã...
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12 janeiro 2007
:: Guarda-freio: Vìtor Matos
A subir:No fim do mês, João Cravinho, deputado do PS, deixa o Parlamento e vai para o BERD, em Londres, deixando provavelmente por concluir aqui, em Lisboa, o pacote legislativo contra a corrupção (ver aqui e aqui). São raros os deputados como ele, que têm autoridade para mobilizar grupos parlamentares de maiorias a trabalhar em matérias menos convenientes. A descer:Bem, mas mais do que lamentar a perda de um dos poucos parlamentares de quem a Assembleia terá saudades, convém lembrar o que o senhor Presidente da República disse sobre esta matéria enquanto candidato. Primeiro ao Público, e depois à Sábado, Cavaco Silva disse em entrevistas que tencionava fazer propostas de legislação à Assembleia da República. Por exemplo, em que matérias? “Corrupção”, respondeu o actual presidente das duas vezes. Estamos à espera.
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11 janeiro 2007
:: Guarda-freio: Vìtor Matos
Os elevadores de Lisboa têm esta particularidade que hoje os torna únicos entre os transportes públicos: ainda têm bancos de pau, como eram antes os dos velhos eléctricos, para gente mais dada a coisas práticas que a confortos desnecessários. Não sabemos se o Elevador da Bica será um blogue desconfortável. Não será com certeza dos mais almofadados. E esperamos, pelo menos, que seja tão divertido para quem sobe como para quem desce. Um grande Obrigado! ao Afonso, o nosso art director.
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Tudo o que sobe também desce
Conheça a história do ascensor aqui.
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