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elevador da bica

Obama, o pastor e o seu rebanho

Foto: VM

O discurso da vitóra foi um grande momento, porque também foi um grande discurso. Quando ele começa por dizer que a prova de os EUA serem um grande país é o facto de ele estar ali, diz tudo. Sem precisar de dizer nada, sem precisar de falar de raça. Mas o impacto dos discursos de Obama têm a ver com a forma, não só com o conteúdo. Ele é um sacerdote e os que o ouvem comportam-se como os fiéis.
Conforme o discurso se ia aproximado do fim, com a multidão quente, Barak Obama ia falando e entrecortando as frases com:
- Yes we can!
Dizia mais qualquer coisa e…
- Yes we can!
A multidão ouvia-o e quando ele dizia "Yes We Can", repetia:
- Yes We Can!
Não é só uma catarse, aquela gente estava toda em transe, é uma missa como a que vi no South Side de Chicago, na Trinity Church, que Obama frequentava. O público envolve-se nas palavras do pastor que os embala e responde à voz do pastor… É diferente de uma missa católica, é mais quente e a comunicação nos dois sentidos é mais espontânea.
- Yes we can!
Obama fala como um pastor protestante de uma igreja negra. Vai subindo o tom, ligeiramente, para não parecer excessivo, para não falar como o reverendo Jeremiah Wright, mas aquilo está lá. Nunca vi um político dominar assim, emocionalmente, uma multidão. Chega a ser assustador. Não que os americanos sejam muito quentes. Em Portugal haveria mais gritaria tipo claque de futebol, mas aqui eles estão arrebatados. Não pela razão, sobretudo pelo espírito.
Quando eles dizem que Obama é "inspiring" é isso. As pessoas sentem coisas quando o ouvem. Os políticos convencionais tentam convencer as pessoas: Obama tenata que eles sintam o que ele diz. Sim, aquilo é de arrepios na espinha. Sobretudo para os negros. E um político que repita "yes we can" daquela maneira, sem parecer ridículo, é porque tem "aquilo": o carisma.

Foto: VM

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