Tirar o Coelho da cartola
Após o 25 de Abril já 28 cidadãos se candidataram ao Palácio de Belém. Representam, pela sua proveniência, o país quase todo: já tivemos candidatos do Minho a África, do Algarve a Trás-os-Montes, das Beiras a Lisboa e arredores. Da Madeira, nem um. Até agora.
O nome de José Manuel Coelho foi confirmado pelo Tribunal Constitucional no último momento. Talvez por essa entrada tardia, é um nome que custa a fixar para quem vive fora da Madeira. Para a maioria dos meus amigos e colegas, é simplesmente "o maluco da Madeira". Suponho que não seja por mal, mas por facilidade e hábito - a maioria já se referia assim ao dr. Jardim.
Curiosa coincidência. Também AJJ teve em tempos o sonho presidencial. Não chegou a candidatar-se porque a ideia, lançada por Marcelo Rebelo de Sousa, não passava de uma manobra de ocasião. Só Jardim a levou a sério, mas não o suficiente para arriscar o poder que tem pelo cargo que poderia ter. AJJ, já se sabe, só entra em jogos ganhos à partida. Por essa razão nunca sairá da ilha.
Parecendo que não, a candidatura de Coelho é um caso sério. Primeiro, por existir: consta que nem o próprio acreditava que conseguiria as assinaturas suficientes - mas conseguiu, e recolheu-as na coutada de AJJ. Segundo, pelo impacto: Coelho criou a oportunidade para fazer a maior campanha nacional de denúncia do jardinismo. Aliás, já eram dele e do PND as iniciativas mais impactantes de oposição a AJJ - haverá melhor exemplo da prepotência do que impedir um deputado da oposição de entrar no Parlamento para o qual foi eleito? Terceiro, pela ousadia: como é que nunca ninguém tinha pensado nisto?
Porque nunca a oposição na Madeira usou mesmas armas de Jardim, sobretudo irreverência, "lata" e populismo. O antigo presidente norte-americano Eisenhower dizia que alguém que queira ser presidente ou é doido ou é egomaníaco. Aí está, portanto, um Coelho à altura de Jardim. Que consequências retirará a oposição regional se for ele o candidato mais votado contra Cavaco?
Nos últimos anos AJJ monopolizou as notícias que saíram da Madeira: pela obra - que a houve -, mas sobretudo pelos insultos, a chantagem, a má-educação, os comícios no Chão da Lagoa ou no Bar do Henrique, as teorias conspirativas, a asneira pura e simples. Mas AJJ tornou-se repetitivo e previsível. Deixou de ter graça.
Agora, como me dizia há dias um amigo, "têm um maluco novo". Vista de fora, a relevância da política madeirense está reduzida a isto. Uma democracia a precisar de cuidados intensivos - esta é uma das heranças do jardinismo.
Ter aparecido "um maluco novo" não faz dele uma alternativa. Mas evidencia ainda mais a necessidade dessa alternativa, venha de onde vier.
Artigo publicado ontem no Diário de Notícias da Madeira
Etiquetas: Alberto João Jardim, José Manuel Coelho, Madeira, Presidenciais 2011
17/1/11 16:34
Se quisermos enviar um cartão vermelho às elites portuguesas este é o portador certo. O meu voto é no José Manuel Coelho!