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elevador da bica

Caça ao voto



Nestes tempos sombrios, de recessão e depressão, em que nada parece seguro e todas as referências parecem perder-se, é reconfortante saber que podemos sempre contar com AJJ para nos provocar uma boa gargalhada. A sua reacção ao subsídio de compensação para os funcionários açorianos, criado por Carlos César, é a anedota do ano. Como dizia alguém, o problema das anedotas políticas é quando elas são eleitas.

AJJ a acusar de César de "demagogia" e de "caça ao voto" é como o Croquete a acusar o Batatinha de ser um palhaço - parece uma crítica, mas é um elogio vindo de quem sabe. AJJ apontar a outro governante uma "ilegalidade", qualquer "incoerência" e algumas "fantasias" é como a Ciciolina a acusar a vizinha do 2º esquerdo de ser uma desavergonhada - talvez seja despeito, é de certeza falta de vergonha na cara.

Num ponto AJJ tem razão: é uma incoerência votar a favor do Orçamento em Lisboa para depois não o aplicar nas ilhas. Mais do que incoerência, é hipocrisia política do melhor calibre. O PS-Açores fez isso, o PS-Madeira propõe o mesmo. Felizmente AJJ não cai nessa de ser incoerente. Recebeu de Sócrates uma prenda de Natal antecipada no OE, que lhe dá carta branca para gastar como bem entenda as verbas da Lei de Meios. Como votou contra o OE presume-se que AJJ, em coerência, não gastará um cêntimo da verba da Lei de Meios.

Os comentários de AJJ sobre o caso dos Açores sinalizam, no mínimo, o seu incómodo. Não é difícil perceber porquê. O imbatível mestre da "caça ao voto" nas ilhas perdeu o exclusivo da patente dessa arte. A "demagogia" de César veio recordar-nos que os governos regionais têm a legitimidade do voto e a responsabilidade da escolha. E que gerir um orçamento é fazer opções. César fez a sua: vai manter o salário de uns milhares de funcionários regionais e vai reforçar certos subsídios sociais. Isso custa menos dinheiro ao orçamento regional do que aquilo que o GRM torra, por ano, com o seu jornal oficial de propaganda. E infinitamente menos dinheiro do que aquilo que vai custar a simpática oferta de um estádio ao Marítimo. A comparação incomoda.

"Caçar o voto" não tem de significar esburacar ilhas de cima a baixo e atapetá-las de cimento. Acumular calotes a fornecedores e dívida à banca. Deixar a sociedade e a economia ligados à máquina do poder regional. Inventar malabarismos jurídicos e financeiros para "fazer obra" - alguma necessária, muita inútil, toda com dinheiro que não se tem.

Pela lógica de AJJ, governar é escolher a maneira de "caçar o voto". AJJ e sus muchachos há muitos anos que fizeram a sua escolha. Tudo indica que não sabem, não querem, nem têm liberdade para fazer outra.

Artigo publicado no Diário de Notícias da Madeira

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“Caça ao voto”

  1. Blogger Vìtor Matos disse:

    Gosto!

  2. Blogger A ilha dentro de mim disse:

    Muito bem visto!