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OE e submarinos: falta de sentido de Estado

Há coisas que um primeiro-ministro não pode dizer, mesmo que as pense. O uso que José Sócrates fez ontem dos submarinos para atacar Paulo Portas revela ausência de sentido de Estado e desconsideração pelas Forças Armadas, sobre as quais tem especiais responsabilidades. Primeiro, porque a compra dos submarinos foi decidida por um Governo do PS. Segundo, porque quando Portas chegou à Defesa, o concurso estava praticamente adjudicado e ele até baixou a quantidade da encomenda (de dois para três submarinos). Terceiro, porque, mesmo na oposição, o PS nunca criticou a aquisição dos submarinos. Apoiou-a. Podem criticar-se todas as decisões de Portas ao longo do processo de aquisição, mas a opção de fundo teve sempre o apoio do Bloco Central + CDS. Também não cola a questão da despesa ter aparecido agora de surpresa, pois há anos que se sabe que, sem o outrora famoso leasing operacional - que diluiria a despesa em rendas ao longo dos anos -, os submarinos eram para pagar de imediato.

A argumentação de Sócrates seria válida se acusasse Portas de incompetência na gestão do processo, mas não foi isso que fez. Poderia fazê-lo, por exemplo, com propriedade, no dossiê dos blindados de rodas Pandur que é um caso escandaloso, mal explicado e grave sob muitos pontos de vista e da total responsabilidade de Portas. Ao questionar a opção de base, José Sócrates diz pela primeira vez que é contra a manutenção da capacidade submarina de Portugal, o que é legítimo, mas tem a ver com opções estratégicas relacionadas com a soberania do País sobre as quais nunca se manifestou.

Mais: há dezenas militares a operar os submarinos, que estão às ordens do Governo para arriscar a vida em operações se o poder político assim o entender. José Sócrates não pode dizer o que disse dos submarinos ontem,e amanhã ser confrontado com a necessidade de mandar um submarino disparar um míssil sobre um alvo no estrangeiro, para libertar reféns ou outra coisa qualquer. Pela sua natureza, por estarem ao serviço das opções políticas mais sérias e graves, as Forças Armadas devem ser tratadas, já não digo com respeito, mas com sentido de Estado e de responsabilidade. E ontem, Sócrates, embalado pelo verbo fácil, não esteve à altura.

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