Podes-te esconder, mas não podes fugir
O sentido de voto do PSD no Orçamento do Estado depende de Pedro Passos Coelho. O aumento de impostos não. No estado a que as coisas chegaram, haverá aumento de impostos independentemente de haver este ou outro Orçamento, este ou outro primeiro-ministro - e mesmo que esse primeiro-ministro seja o próprio Passos Coelho.
Suponhamos que o PSD vota contra o OE. Não acredito nisso (a declaração de hoje, exigindo um Orçamento "minimamente razoável", é o sinal de abertura que faltava até agora), mas admitamos que sim, for the sake of argument.
Pelo que se tem visto, a grande razão para esse chumbo seria travar o aumento de impostos. O Governo demite-se, Sócrates e o PS não aceitam formar um executivo de gestão, e Cavaco anda de candeia à procura de alguém que segure a coisa até poder dissolver a AR e convocar eleições, que seriam em maio. Entretanto, o rating da República vinha por aí abaixo, os juros iam por aí acima e o mais certo era termos o FMI pela porta adentro para nos salvar da bancarrota (presumindo que haveria alguém para abrir a porta).
Em campanha para as legislativas, Passos prometerá, naturalmente, tirar-nos do buraco sem aumentar impostos - afinal, a razão próxima para a crise política. Será um exercício interessante ver Passos a dizer que não aumenta impostos, com o FMI a tomar conta da loja e a exigir o contrário. Mas admitamos que o líder do PSD fica na sua, não desarma com a promessa de não aumentar impostos, e ganha as eleições. (Para isso ainda teríamos que admitir que as pessoas acreditassem num político que prometesse tal coisa, o que nesta altura do campeonato me parece pouco provável, mas enfim...)
Qual seria a primeira coisa que Passos teria que fazer mal formasse Governo? Isso mesmo: aumentar impostos, e tudo o mais que o FMI ditasse. Pedro Passos Coelho no Governo teria que aplicar, não o plano de austeridade de Sócrates, mas provavelmente um ainda mais exigente (o tempo, nestas coisas, nunca corre a favor).
Seria, portanto, o terceiro primeiro-ministro a aumentar impostos depois de fazer campanha a prometer o contrário. Depois queixem-se se isto acabar à pedrada.
Adenda:
Dou-me conta de que, em caso de crise política, os calendários seriam mais rápidos do que escrevi acima - e o PSD ficaria ainda mais depressa comprometido com o aumento de impostos. Vejamos: chumbo do OE, demissão do Governo, rating aos trambolhões, juros da dívida a disparar, entrada do FMI em Portugal para podermos recorrer ao Fundo Europeu de Estabilização Financeira. A ementa do FMI inclui, claro, aumento de impostos - e isto, de imediato, e não apenas quando houvesse um novo governo, lá para a primavera/verão. O FMI diz o que fazer, mas quem aprova são os parlamentos. E, num ápice, teríamos o governo de gestão, qualquer que ele fosse, a apresentar na AR o pacote de austeridade do FMI.
Nessas circunstâncias, não tenho dúvidas de que Pedro Passos Coelho estaria a dar ordem aos seus deputados para viabilizar o aumento de impostos pouco tempo depois de ter dado ordem aos mesmos deputados para chumbar o OE... para que não houvesse aumento de impostos. Mas isto, claro, se o PSD chumbasse o OE no dia 29. E isso, pago para ver.
Suponhamos que o PSD vota contra o OE. Não acredito nisso (a declaração de hoje, exigindo um Orçamento "minimamente razoável", é o sinal de abertura que faltava até agora), mas admitamos que sim, for the sake of argument.
Pelo que se tem visto, a grande razão para esse chumbo seria travar o aumento de impostos. O Governo demite-se, Sócrates e o PS não aceitam formar um executivo de gestão, e Cavaco anda de candeia à procura de alguém que segure a coisa até poder dissolver a AR e convocar eleições, que seriam em maio. Entretanto, o rating da República vinha por aí abaixo, os juros iam por aí acima e o mais certo era termos o FMI pela porta adentro para nos salvar da bancarrota (presumindo que haveria alguém para abrir a porta).
Em campanha para as legislativas, Passos prometerá, naturalmente, tirar-nos do buraco sem aumentar impostos - afinal, a razão próxima para a crise política. Será um exercício interessante ver Passos a dizer que não aumenta impostos, com o FMI a tomar conta da loja e a exigir o contrário. Mas admitamos que o líder do PSD fica na sua, não desarma com a promessa de não aumentar impostos, e ganha as eleições. (Para isso ainda teríamos que admitir que as pessoas acreditassem num político que prometesse tal coisa, o que nesta altura do campeonato me parece pouco provável, mas enfim...)
Qual seria a primeira coisa que Passos teria que fazer mal formasse Governo? Isso mesmo: aumentar impostos, e tudo o mais que o FMI ditasse. Pedro Passos Coelho no Governo teria que aplicar, não o plano de austeridade de Sócrates, mas provavelmente um ainda mais exigente (o tempo, nestas coisas, nunca corre a favor).
Seria, portanto, o terceiro primeiro-ministro a aumentar impostos depois de fazer campanha a prometer o contrário. Depois queixem-se se isto acabar à pedrada.
Adenda:
Dou-me conta de que, em caso de crise política, os calendários seriam mais rápidos do que escrevi acima - e o PSD ficaria ainda mais depressa comprometido com o aumento de impostos. Vejamos: chumbo do OE, demissão do Governo, rating aos trambolhões, juros da dívida a disparar, entrada do FMI em Portugal para podermos recorrer ao Fundo Europeu de Estabilização Financeira. A ementa do FMI inclui, claro, aumento de impostos - e isto, de imediato, e não apenas quando houvesse um novo governo, lá para a primavera/verão. O FMI diz o que fazer, mas quem aprova são os parlamentos. E, num ápice, teríamos o governo de gestão, qualquer que ele fosse, a apresentar na AR o pacote de austeridade do FMI.
Nessas circunstâncias, não tenho dúvidas de que Pedro Passos Coelho estaria a dar ordem aos seus deputados para viabilizar o aumento de impostos pouco tempo depois de ter dado ordem aos mesmos deputados para chumbar o OE... para que não houvesse aumento de impostos. Mas isto, claro, se o PSD chumbasse o OE no dia 29. E isso, pago para ver.
Etiquetas: José Sócrates, Orçamento do Estado, Passos Coelho
12/10/10 14:17
É exactamente isso, exactamente. Não consigo perceber é como Passos e algumas luminárias do passismo que nunca fizeram outra coisa senão política e pensar política, não se tenham apercebido do perigo das consequências do seu caminho. Para todos nós, mas sobretudo para eles mesmos.