O deputado mãozinhas
A entrevista de Ricardo Rodrigues ontem na RTP-N é mais um episódio lamentável. Ele defende-se do furto dos gravadores, quando o problema não é o furto em si: é a tentativa de impedir a publicação da entrevista à Sábado, ou seja, um atentado à liberdade de imprensa por um deputado da Comissão de Direitos Liberdades e Garantias.
Ele diz que as perguntas eram capciosas e que a revista Sábado o queria condenar por crimes a que os tribunais não o condenaram. Ora estes senhores que passam a vida a encher a boca com liberdade, democracia e Estado de Direito, esquecem-se que há uma grande diferença entre o domínio do jornalismo e o da justiça.
Em caso de dúvida, os tribunais não condenam: in dubio pro reo. Pelo contrário, em caso de dúvida, os jornais escrevem a notícia, evidenciam a dúvida, escrutinam, perguntam, esgravatam, colocam em causa. É um dever da imprensa livre perante o poder político. E aqui Ricardo Rodrigues padece de uma grande fragilidade: o caso em concreto não se tratava de um artigo manhoso feito à sua revelia sobre as dúvidas que sobre si recaem. Eram perguntas colocadas directamente às quais ele podia responder e defender-se em directo e no próprio momento. Claro, podia simplesmente ter-se ido embora, e a fuga às perguntas sobre os seus estranhos casos nunca seria assunto nacional.
Mais lamentável ainda: nenhum dos deputados que passaram meses numa comissão de inquérito a ouvir toda a gente sobre a liberdade de expressão neste país triste teve uma palavra de condenação sobre a conduta de Ricardo Rodrigues. A excepção foi Marques Guedes, do PSD.
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