Retratos da América - 4
Foto: VM
É sexta-feira na little town America. George W. Bush vivia num rancho em Crawford. Apesar da fama mundial, o lugar é apenas uma pequena aldeia de 705 habitantes. E esta noite havia um dérbi de futebol entre liceus: os Pirates de Crawford, que tinham sido campeões do Texas (o Texas tem 23 milhões de habitantes), jogavam contra os Bulldogs de McGregor, a vila vizinha, com 10 mil habitantes. Grande festa! Os 705 habitantes estavam nas bancadas a gritar pelos Pirates.
Há um ano, durante a campanha para as presidenciais, a republicana Sarah Palin apresentava-se invariavelmente como uma hockey mom. Naquela noite, o estádio de Crawford estava cheio de football moms and dads. O público vibrava ali com mais energia do que num Benfica-Sporting. Aquela gente tem espírito de comunidade. As televisões conservadoras estavam sempre a falar dos little town America values, coisa alegadamente abstracta para Obama...
Foto: VM
Imagino que os liceus daqui não sejam muito grandes - embora Bush, Putin e Blair tenham discursado no pequeno liceu de Crawford - mas toda a gente está envolvida na noite de sexta-feira desta América das aldeias. São os alunos que jogam futebol americano, as cheerleaders da escola agitando puffs, gritando Pi-ra-tes! ou do outro lado Ouf! Ouf! Bull-dogs!, e fazendo exibições de ginástica nos intervalos, mais as bandas filarmónicas estudantis. Pirates e Bulldogs têm jogadores, treinador, cheerlears e banda que toca à vez, conforme ataca a sua equipa. No mínimo é animado. E cada aluno leva pais, avós, primos, antigos alunos, professores, tudo atrás. Quando a minha equipa de basquete da secundária lá da vila jogava contra escolas de outras vilas, mobilizava mais ou menos as nossas namoradas e pouco mais. Ali há repórteres de imprensa local, rádios e televisões regionais...
Foto: VM
O problema do futebol americano é entendê-lo. Bem me explicaram as regras, a conquista das linhas, o touch down, mas confesso que entendi menos da coisa do que um americano que vê soccer e não percebe como é que os europeus gostam de um desporto em que raramente se marca um ponto. Ali marcam-se muitos pontos num jogo que aos olhos de um europeu está sempre parado. O rapaz desta foto respondeu a todas as perguntas que lhe fiz com um "Yes, sir! No, sir!" Pensei que era por ele estar a fazer a pré-recruta dos Marines, mas não. No Texas a educação assim obriga.
Prteston Lynn, professor de inglês do liceu de Crawford ajudou-me a parar esta sua aluna para a foto. Conversámos ao longo do jogo. Falou-me dos escritores americanos. Não conhecia nenhum escritor português. Perguntou-me se morria muita gente nos estádios de futebol portugueses por causa dos hooligans. Raio de pergunta. O professor Lynn é um homem afável, conservador e evangélico da Assembleia de Deus que votaria com gosto na evangélica Sarah Palin, mas teria dificuldade em engolir John McCain.
Foto: VM
No fim da noite, os campeões perderam. Os Pirates de Crawford foram cilindrados pelos Bulldogs de McGregor: 42-14.
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