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Confiança e desconfiança

“Houve uma fraude. O banco não tem condições de verificar se todos os emitentes não estão envolvidos em fraudes", disse um administrador do Banco Espírito Santo a propósito do recurso que a instituição vai apresentar de uma decisão judicial em Espanha, que condena o BES a reembolsar em meio milhão de euros um cliente que viu o seu dinheiro ser aplicado num fundo ligado ao esquema de Ponzi liderado por Bernard Maddoff.

É, pelo menos, razoável admitir que o banco não tem condições para fazer aquela verificação. Mas já é menos razoável aceitar que a instituição não tem quaisquer responsabilidades sobre os produtos que comercializa, ainda para mais quando ganha dinheiro com isso. É por estas e por outras semelhantes que as instituições financeiras saem da actual crise com o prestígio e a credibilidade de rastos. Pior: parece que os seus responsáveis aprenderam pouco com os acontecimentos dos dois últimos anos.

Acresce que a história, ao que se sabe, não se resume ao facto de o BES ter aplicado uma parte do dinheiro do cliente no tal fundo ligado a Maddoff. O tribunal espanhol deu como provado que o cliente tinha solicitado o investimento da soma entregue ao BES em produtos "conservadores" e nunca terá sido informado do perfil de maior risco das aplicações por onde o seu dinheiro se perdeu.

Posto isto, se é incontestável que o BES, ou outro banco qualquer, não é responsável pelas fraudes alheias, também parece ser indiscutível que é necessário ter uma perspectiva mais responsável sobre estas matérias para que possam existir laços de confiança entre as instituições financeiras e os respectivos clientes. Se os bancos se demitem das suas obrigações, por que motivo se poderão achar merecedores de crédito?

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