Lido no Elevador

Por vezes aqueles que começam por defender a liberdade passam a defender que só limitando seriamente a liberdade se pode ser verdadeiramente livre. O caso é mais complexo do que isto, claro, e cada autor tem as suas próprias variantes e vale a pena explorá-las.
Portugal, apesar daqueles que enchem a boca com vinte e cinco de abris, não é um país onde se ame a liberdade. Em Portugal a liberdade é uma chatice, e quando no poder a liberdade dos outros é um constrangimento ainda maior. Ainda ontem tive uma discussão com um reputado socialista que acusava a imprensa de todas as tropelias conspirativas contra o primeiro-ministro e ainda ameaçava que o patronato ia pôr fim à insídia quando Sócrates desatasse a processar os jornais a torto e a direito. Claro que, depois de umas certas palavras trocadas eu disse que no tempo do dr. Salazar é que era assim, do género fazer auto-censura porque o medo... O homem espumou e perguntou-me que moral tinha eu, já que ele tinha a medalha não sei das quantas da luta pela liberdade e eu não sabia o que era isso. E que tinha lutado pela liberdade de imprensa e que sabia o que diziam os velhos jornalistas desta malévola imprensa moderna. Talvez Berlin pudesse ter juntado às suas conferências sobre os inimigos da liberdade os acólitos de Sócrates, não os do filósofo.