Preparem-se para estudos "credíveis" e "sérios"
Parece que poupar uns cobres não é a única razão desta intempestiva proposta. É certo que surge embrulhada na narrativa da "crise" e da necessidade de "austeridade". Mas, pelos vistos, tem em vista sobretudo o Santo Graal das democracias modernas: combater o "divórcio", como se diz agora, entre eleitos e eleitores.
Confesso que me escapa esse passe de magia que pela redução do número de deputados consegue "aproximar os eleitos dos eleitores". Em todo o caso, não tenho nenhum fetiche com o número 230, nem qualquer repulsa pelo 180. No entanto...
O ministro Lacão coloca uma série de perguntas e eu embatuco logo nas duas primeiras: não sei se uma diminuição do número de deputados para 180 "manteria uma representatividade adequada" e a "proporcionalidade actual". O senso comum diz que, se há menos representantes, a representatividade é afectada. Mas para além desta lapalissada, não tenho dados que me permitam responder.
A boa notícia é que, se avançar a proposta feita pelo ministro a título pessoal (curioso número...), arranjam-se estudos "credíveis" e "sérios", de entidades "acima de qualquer suspeita", garantindo uma coisa ou jurando o seu contrário. É como os pareceres jurídicos - há para todos os gostos -, com a vantagem de que os números, como se sabe, são fracos: basta torturá-los e eles dizem o que quisermos.
P.S.: Em todo o caso, não deixa de ser comovente ler o ministro Lacão discorrer sobre a "agressividade retórica típica do Estado-espectáculo que vai progressivamente tomando conta do quotidiano da vida política".
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