Presidenciais: as intercalares inúteis
Estas são as quartas eleições intercalares Presidenciais da democracia. São apenas intercalares e sobretudo inúteis. De 10 em 10 anos, concorrem as figuras de primeiro plano que depois cumprem os mandatos; nas décadas de permeio, umas figurinhas curiosas em bicos de pés desafiam o incumbente sem sucesso, com a noção prévia da sua impotência.
Até o Alegre de 2010 não é o mesmo de 2006. É o primeiro desta história a atirar-se contra a parede, concorrendo cinco anos depois de ter sido derrotado pelo entretanto incumbente. Entalado entre o PS e o BE, sem a aura poética da liberdade anti-sistema da campanha do milhão de votos, tem o apoio interesseiro de José Sócrates que nunca partilhará uma derrota que será exclusivamente dele. Alegre ainda não perdeu, mas:
- Em 1980, Soares Carneiro teve 40%, não foi mau, mas ficou a 15% de Ramalho Eanes.
- Em 1991, Basílio Horta teve 14% contra Mário Soares apoiado pelo PSD, que rebentou a escala com 70%.
- Em 2001, Joaquim Ferreira do Amaral prestou-se ao sacrifício: 34% contra 55% de Sampaio.
- Em 2011, resta saber por quantos ganhará Cavaco ou de que forma a desmobilização do seu eleitorado o pode prejudicar.
Feita esta conversa, conclusão: já se percebeu que, com esta história constitucional, talvez fosse melhor a solução do mandato único de sete anos. A justificação de submeter o mandato do Presidente da República ao escrutínio do voto perdeu sentido:
a) porque dada a natureza do cargo é fácil ganhar e a história prova-o;
b) porque no segundo mandato é que os Presidentes da República abandonam o cinismo do primeiro e agem descomprometidos.
Na realidade, aumentando o mandato para sete anos, sem hipótese de recandidatura, estaríamos a diminuir em três anos a duração do verdadeiro mandato presidencial de 10 anos. Era higiénico para a democracia e acabavam-se as campanhas sobre as galinhas que fogem dos pobres... dos pobres candidatos.
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