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elevador da bica

Faroeste


AJJ diz "Não!" ao Orçamento do Estado (OE). AJJ proclama que "este Governo tem de cair!". AJJ manda os seus deputados absterem-se na votação do OE.

AJJ está zangado com Passos Coelho. AJJ não perdoa à "classe política de Lisboa que, em vez de pôr na rua o Governo, faz acordos para mantê-lo". AJJ abstém-se no OE para não incomodar Passos Coelho.

O PS-Madeira vota a favor do OE em Lisboa. O PS-Madeira exige que o OE não seja aplicado na região.

A oposição entende-se num pacto de não agressão. A oposição promete concentrar-se no adversário comum. Um dirigente da oposição arma uma zaragata e deita à ribeira material de propaganda de outro responsável da oposição.

É autorizada a construção de um edifício no centro do Funchal. O edifício que é construido não é o que foi autorizado. O promotor do edifício ilegal é indemnizado pelo Governo.

O Governo Regional paga o Jornal da Madeira em nome do pluralismo. O JM, que não é pobre nem mal agradecido, só escreve coisas bonitas sobre o Governo (chamar-lhes notícias seria um manifesto exagero). O JM, que é pago por todos e distribuido à borla por alguns, é concorrência desleal. Os reguladores concordam: o jornal do Governo Regional põe em causa o pluralismo.

AJJ tentou acabar com o Marítimo. AJJ não conseguiu mas aprendeu a lição: se não os podes vencer junta-te a eles. AJJ gasta mais dinheiro com o Marítimo. AJJ oferece um terreno e um estádio novinho ao Marítimo (já tinha oferecido ao Nacional). O povo paga a conta e os juros. A lei não permite. AJJ contorna a lei. O povo paga.

O Diário investiga o Marítimo. AJJ acusa o Diário de querer acabar com o Marítimo (ou seja, de tentar fazer com notícias o que ele não conseguiu com leis - a diferença é que as notícias retratam a realidade e as leis pretendiam mudá-la). AJJ encontra a plateia adequada para o seu discurso (crianças da primária e pré-primária) e instiga à revolta contra o Diário. O presidente do Marítimo - que também não é pobre, nem mal agradecido -, é mais obediente do que as criancinhas que ouviam AJJ. O presidente do Marítimo passa das palavras aos actos. Os jornais dizem que o presidente do Marítimo agrediu e apertou o pescoço a um jornalista do Diário. O presidente do Marítimo desmente: agarrou, mas não estrafegou.

A Assembleia Regional, que deve fazer leis, não cumpre a lei. A ALR dá aos partidos dinheiro ilegal. Todos recebem, todos gastam. Muito dinheiro. Os tribunais mandam que seja devolvido. Avançam para procedimento criminal. A ALR pede ajuda a Lisboa, que nisto pode mais. Lisboa, onde estão os "loucos", os "irresponsáveis", os "medíocres", ajuda. Muda a lei de financiamento dos partidos. O jackpot continua.

AJJ não admite perder a reforma que acumula por inteiro com o ordenado. AJJ desanca nos "situacionistas". AJJ desatina quando lhe mexem na situação.

Vista de fora, a Madeira parece o faroeste. Suponho que vivida por dentro também.

Artigo publicado no Diário de Notícias da Madeira

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