Freakpolitics - o que diz o lado improvável dos políticos (15)
O cantor de ópera
O que dizem os estudos sobre os cérebros treinados na música como o de Pedro Passos Coelho e de que lhe serve isso na política.
Não sabemos o que diria o júri do Ídolos, mas Pedro Passos Coelho tem voz de barítono e canta ópera, frequentou aulas de canto com uma professora profissional e até foi aprovado num casting de Filipe la Féria para o musical My Fair Lady. É uma biografia em processo de cristalização, que faz parte do marketing do líder do PSD, para não parecer apenas mais um cinzentão de fato a pedir votos.
Investigações recentes sobre o cérebro dos músicos podem ajudar a perceber melhor quem é Passos Coelho. Por exemplo: o treino musical tem efeito no cérebro e faz aumentar o número de células de massa cinzenta no córtex. Oliver Sacks, o famoso neurologista norte-americano, escreveu no livro Musicofilia (Relógio d’ Água, 2008) que um anatomista teria alguma dificuldade em identificar o cérebro de um artista visual ou de um escritor ou de um matemático, mas podia reconhecer facilmente o cérebro de um músico.
De que serve então a Passos ter cabeça de cantor de ópera?
Primeiro, tem uma boa noção de performance, como um actor em palco: em 2009, Boris Kebler, um cientista alemão, estudou 10 cantores profissionais de ópera e 21 estudantes de canto, verificando que, enquanto cantavam, activava-se o córtex somatosensorial (que recebe informação do tacto, vibração, temperatura, ou dor mas que também influencia a empatia ou a capacidade de simulação). A equipa de Kebler especulou sobre se o facto de a ópera envolver cantar e actuar ao mesmo tempo obrigava os artistas a desenvolveram mais recursos para monitorizar a expressão do seu corpo durante a actuação.
As pessoas com formação musical também têm melhor memória verbal, apontou outro estudo de neurologistas da Academia Chinesa de Ciências, publicado na revista Neuroscience. Indivíduos que tinham aprendido piano desde os 7 anos conseguiam memorizar mais palavras do que as pessoas sem formação musical. O estudo sugere que há um efeito do treino musical no sistema nervoso e que a prática até ajuda a reorganizar o cérebro: os músicos da experiência usavam áreas do cérebro para processar informação verbal que estariam destinadas à informação visual.
Assim, segundo a experiência de Kebler (publicada na revista Cerebral Córtex, de Oxford) Passos Coelho pode ter desenvolvido um autocontrolo superior à média com o seu treino a cantar ópera, do qual pode tirar partido em público. Para um político é uma arma valiosa. Passos parece que nunca se enerva, coloca a voz para dar credibilidade às palavras e, por isso, tanto adversários como eleitores devem estar atentos e desconfiados porque o córtex somatosensorial direito dele ajuda-o a criar empatias, mas também rege a sua capacidade de simulação. Em suma, é um actor treinado.
Quanto à capacidade de memorização verbal, pode ser a força ou a fraqueza de um político. Não se trata apenas da vantagem de poder falar sem teleponto. Trata-se de se lembrar bem do que já disse, para não ziguezaguear tanto como nas últimas semanas a propósito da dramatização em volta do Orçamento do Estado.
Crónica publicada no site da SÁBADO.
O que dizem os estudos sobre os cérebros treinados na música como o de Pedro Passos Coelho e de que lhe serve isso na política.
Não sabemos o que diria o júri do Ídolos, mas Pedro Passos Coelho tem voz de barítono e canta ópera, frequentou aulas de canto com uma professora profissional e até foi aprovado num casting de Filipe la Féria para o musical My Fair Lady. É uma biografia em processo de cristalização, que faz parte do marketing do líder do PSD, para não parecer apenas mais um cinzentão de fato a pedir votos.
Investigações recentes sobre o cérebro dos músicos podem ajudar a perceber melhor quem é Passos Coelho. Por exemplo: o treino musical tem efeito no cérebro e faz aumentar o número de células de massa cinzenta no córtex. Oliver Sacks, o famoso neurologista norte-americano, escreveu no livro Musicofilia (Relógio d’ Água, 2008) que um anatomista teria alguma dificuldade em identificar o cérebro de um artista visual ou de um escritor ou de um matemático, mas podia reconhecer facilmente o cérebro de um músico.
De que serve então a Passos ter cabeça de cantor de ópera?
Primeiro, tem uma boa noção de performance, como um actor em palco: em 2009, Boris Kebler, um cientista alemão, estudou 10 cantores profissionais de ópera e 21 estudantes de canto, verificando que, enquanto cantavam, activava-se o córtex somatosensorial (que recebe informação do tacto, vibração, temperatura, ou dor mas que também influencia a empatia ou a capacidade de simulação). A equipa de Kebler especulou sobre se o facto de a ópera envolver cantar e actuar ao mesmo tempo obrigava os artistas a desenvolveram mais recursos para monitorizar a expressão do seu corpo durante a actuação.
As pessoas com formação musical também têm melhor memória verbal, apontou outro estudo de neurologistas da Academia Chinesa de Ciências, publicado na revista Neuroscience. Indivíduos que tinham aprendido piano desde os 7 anos conseguiam memorizar mais palavras do que as pessoas sem formação musical. O estudo sugere que há um efeito do treino musical no sistema nervoso e que a prática até ajuda a reorganizar o cérebro: os músicos da experiência usavam áreas do cérebro para processar informação verbal que estariam destinadas à informação visual.
Assim, segundo a experiência de Kebler (publicada na revista Cerebral Córtex, de Oxford) Passos Coelho pode ter desenvolvido um autocontrolo superior à média com o seu treino a cantar ópera, do qual pode tirar partido em público. Para um político é uma arma valiosa. Passos parece que nunca se enerva, coloca a voz para dar credibilidade às palavras e, por isso, tanto adversários como eleitores devem estar atentos e desconfiados porque o córtex somatosensorial direito dele ajuda-o a criar empatias, mas também rege a sua capacidade de simulação. Em suma, é um actor treinado.
Quanto à capacidade de memorização verbal, pode ser a força ou a fraqueza de um político. Não se trata apenas da vantagem de poder falar sem teleponto. Trata-se de se lembrar bem do que já disse, para não ziguezaguear tanto como nas últimas semanas a propósito da dramatização em volta do Orçamento do Estado.
Crónica publicada no site da SÁBADO.
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