Freakpolitics - o que diz o lado improvável dos políticos (14)
A testosterona de Passos e Sócrates
Os altos níveis de testosterona na política potenciam as crises, assim como nos mercados financeiros fazem subir as bolsas
Pode ter sido do sol algarvio ou das vistas na praia. Os líderes do PS e do PSD abriram o ano político com os níveis de testosterona altíssimos, um perigo para a estimada estabilidade. A rentrée foi feita de masculinidades. O primeiro foi Pedro Passos Coelho, no Pontal: dramatizou com o Orçamento do Estado e desafiou o PS para o ringue, ao apelar ao Governo para “devolver a palavra aos portugueses” até ao dia 9 de Setembro, enquanto o Presidente tem “os seus poderes intactos” para dissolver o Parlamento. É de homem.
Uns dias depois, em Mangualde, José Sócrates respondeu com virilidade: “Não nos metem medo esse tipo de ameaças, o PS está há muito tempo na política para se deixar assustar por ameaças ou o que parece um torneio de afirmações categóricas feitas para afirmações pessoais”. Também é de homem.
Nesta luta pelo lugar de macho alfa, parece haver maiores concentrações de testosterona que de cortisol – uma hormona mais adequada aos tempos em que eles dançavam o tango.
O professor e investigador John Coates, do departamento de neurociência da Universidade de Cambridge, estudou a presença da testosterona e do cortisol nos traders dos mercados financeiros. Ele próprio foi trader 12 anos, tendo passado por bancos como Goldman Sachs, Deutche Bank ou Merril Lynch. Num estudo intitulado “From molecule do market: steroid hormones and financial risk-taking”, verificou que os traders com altos níveis de testosterona pela manhã faziam mais dinheiro ao longo do dia. E achou que podia haver um efeito semelhante ao dos desportistas, em que um bom resultado aumenta a testosterona, estimulando a confiança e a disponibilidade para correr riscos.
John Coates acha que excesso de testosterona nas salas de mercados aumenta a possibilidade de se criarem “bolhas” financeiras, com aconteceu com as dotcom no início da década. Já na política, as descargas de testosterona – o excesso de confiança de Pedro Passos e o peito feito de José Sócrates – aumentam sobretudo a possibilidade de crises políticas. Mas calma. A bolha não vai rebentar já.
Depois vem o cortisol. Coates também descobriu que, quando o mercado cai, o stresse faz segregar cortisol, uma hormona que afecta a memória e leva a recordar precedentes negativos, podendo conduzir a um comportamento mais prudente. Segundo ele, muito cortisol pode levar um mercado em baixa a entrar em crash.
Afinal, depois das primeiras descargas hormonais, talvez os níveis de cortisol tenham aumentado em Passos e Sócrates. O Governo já veio dizer que “tudo é negociável” no Orçamento e o PSD até aceita cortes nas deduções a partir do 6º escalão do IRS. Se os rapazes estão de novo preparados para dançar o tango, é porque se assustaram, entraram em stresse ou aquilo não era testosterona: era pura bravata.
Crónica publicada no site da SÁBADO
Os altos níveis de testosterona na política potenciam as crises, assim como nos mercados financeiros fazem subir as bolsas
Pode ter sido do sol algarvio ou das vistas na praia. Os líderes do PS e do PSD abriram o ano político com os níveis de testosterona altíssimos, um perigo para a estimada estabilidade. A rentrée foi feita de masculinidades. O primeiro foi Pedro Passos Coelho, no Pontal: dramatizou com o Orçamento do Estado e desafiou o PS para o ringue, ao apelar ao Governo para “devolver a palavra aos portugueses” até ao dia 9 de Setembro, enquanto o Presidente tem “os seus poderes intactos” para dissolver o Parlamento. É de homem.
Uns dias depois, em Mangualde, José Sócrates respondeu com virilidade: “Não nos metem medo esse tipo de ameaças, o PS está há muito tempo na política para se deixar assustar por ameaças ou o que parece um torneio de afirmações categóricas feitas para afirmações pessoais”. Também é de homem.
Nesta luta pelo lugar de macho alfa, parece haver maiores concentrações de testosterona que de cortisol – uma hormona mais adequada aos tempos em que eles dançavam o tango.
O professor e investigador John Coates, do departamento de neurociência da Universidade de Cambridge, estudou a presença da testosterona e do cortisol nos traders dos mercados financeiros. Ele próprio foi trader 12 anos, tendo passado por bancos como Goldman Sachs, Deutche Bank ou Merril Lynch. Num estudo intitulado “From molecule do market: steroid hormones and financial risk-taking”, verificou que os traders com altos níveis de testosterona pela manhã faziam mais dinheiro ao longo do dia. E achou que podia haver um efeito semelhante ao dos desportistas, em que um bom resultado aumenta a testosterona, estimulando a confiança e a disponibilidade para correr riscos.
John Coates acha que excesso de testosterona nas salas de mercados aumenta a possibilidade de se criarem “bolhas” financeiras, com aconteceu com as dotcom no início da década. Já na política, as descargas de testosterona – o excesso de confiança de Pedro Passos e o peito feito de José Sócrates – aumentam sobretudo a possibilidade de crises políticas. Mas calma. A bolha não vai rebentar já.
Depois vem o cortisol. Coates também descobriu que, quando o mercado cai, o stresse faz segregar cortisol, uma hormona que afecta a memória e leva a recordar precedentes negativos, podendo conduzir a um comportamento mais prudente. Segundo ele, muito cortisol pode levar um mercado em baixa a entrar em crash.
Afinal, depois das primeiras descargas hormonais, talvez os níveis de cortisol tenham aumentado em Passos e Sócrates. O Governo já veio dizer que “tudo é negociável” no Orçamento e o PSD até aceita cortes nas deduções a partir do 6º escalão do IRS. Se os rapazes estão de novo preparados para dançar o tango, é porque se assustaram, entraram em stresse ou aquilo não era testosterona: era pura bravata.
Crónica publicada no site da SÁBADO
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