Freakpolitics - o que diz o lado improvável dos políticos (7)
A selecção nacional é um perigo político
Em 2004, o Governo caiu depois da vitória à Inglaterra. Em 2006, Freitas do Amaral demitiu-se na véspera do jogo com os ingleses
O sucesso de Portugal nos campeonatos de futebol esconde perigos imprevisíveis. Enquanto a nação anda com a cegueira da bola, os políticos têm a cortina de fumo perfeita para trabalharem na sombra.
O caso mais grave aconteceu no Euro 2004: Portugal ficou sem Governo entre a gloriosa eliminação da Inglaterra e as meias finais com a Holanda. Na véspera das meias-finais contra os Países-Baixos, Durão Barroso despediu-se de Portugal e pirou-se para Bruxelas. No dia da final com a Grécia, o primeiro-ministro mais provável chamava-se Pedro Santana Lopes. O que aconteceu a seguir é sabido.
O Mundial de 2006 na Alemanha, ofereceu a camuflagem perfeita para outra crise governamental. Na véspera do jogo dos quartos-de-final entre Portugal e a Inglaterra, Freitas do Amaral demitiu-se de ministro dos Negócios Estrangeiros. Dois dias antes das meias-finais com a França, Luís Amado tomou posse como MNE e Severiano Teixeira como ministro da Defesa . Do ponto de vista mediático a jogada é brilhante. Quando a selecção está a ganhar, alguém quer saber de ministros?
Em Espanha não é diferente: durante o Euro 2008, José Luís Zapatero anunciou um pacote de austeridade no mesmo dia em que a selecção nacional venceu a meia-final por 3-0 à Rússia.
Desta vez, Portugal foi politicamente salvo pela Espanha. Os políticos avaliam a agenda desportiva em função dos seus interesses: por exemplo, no dia em que a selecção jogou contra o Brasil, José Sócrates teve um debate quinzenal no Parlamento; mas Pedro Mota Soares, líder da bancada do CDS, chegou a sugerir uma data alternativa para o debate, que não coincidisse com o jogo, porque a agenda mediática estaria ocupada com a bola.
Vejamos assim o que aconteceu esta terça-feira, dia do jogo com Espanha: o Correio da Manhã tinha 18 páginas de futebol; o Diário de Notícias dedicava à bola um suplemento de 20; e o Público fazia um destaque de sete. As notícias políticas eram importantes, mas tinham um destaque relativo: o Governo queria isenções nas SCUTS, o PSD lançava a revisão do programa; e o Presidente pedia a verificação sucessiva da constitucionalidade do PEC.
Crónica publicada no site da SÁBADO.
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