Em resumo: é como se vetasse, mas não veto, porque não podia vetar outra vez e aqueles malandros não me iam dar ouvidos.
Cavaco promulgou o casamento
gay porque sabia que a lei lhe voltaria a queimar as mãos e teria de a promulgar na mesma. Não vetou porque o veto era inútil. Acontece que no semi-presidencialista, a outra parte do semi (a parlamentar) tem legitimidade para decidir, sobretudo quando a decisão tem por detrás o voto de deputados de vários partidos. Justificou-se assim Cavaco perante o seu eleitorado. Mas ao dizer que não valia a pena vetar, resignou-se ao facto de achar que os partidos não ajustariam as suas posições. Assim, fez mais uma declaração oficial de impotência presidencial em relação ao Parlamento, tal como na primeira declaração sobre o Estatuto dos Açores. Se acreditava nas justificações que deu, devia ter sido consequente. A crise financeira não se agravaria. Se tem razão, as suas razões seriam pelo menos debatidas. Cavaco diz que o tema divide os portugueses, mas foi isso que sempre afirmou sobre este tema, o aborto, ou até a regionalização. Acontece que a crise e as suas soluções também dividem os portugueses e não é menos. Cavaco gosta de uniões nacionais. Mas democracia é mais ao contrário, sobre saber lidar com divisões: é sobre a metade que não governa aceitar o poder da que manda; e sobre a parte que manda aceitar os limites do seu próprio poder.
Sai uma bica e um bagaço.
Etiquetas: Análise Política, marcelice, marcelómetro
Escrito por Vìtor Matos, em
17 maio 2010.
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