Uma questão de fé
Divirto-me a ler considerações sobre a República como se ainda vivessemos em efeverscência carbonária pré-1926. Ser republicano hoje ou defender uma República em vez de uma Monarquia nos dias que correm nada tem a ver com 1910. Se a República é a democracia de Afonso Costa ou o regime de António de Oliveira Salazar - como há monárquicos a fazer crer -, a monarquia também podia ser o absolutismo iluminado do século XVIII ou o falido rotativismo parlamentar do século XIX.
Se queremos, portanto, debater o regime - os monárquicos querem - temos de pensar entre República hoje e Monarquia hoje. As conclusões parecem evidentes. A irracionalidade de ter uma família na chefia do Estado é uma perda de liberdade dos cidadãos; há privilégios que ninguém deve ter, como o acesso ao poder pelo sangue ou o matrimónio; há cruzes que ninguém deve carregar, como a de se estar predestinado a tão grave missão; o povo deve escolher o seu Chefe de Estado, pois a Nação está para além dele e acima dele, não precisando de estar personificada no sangue de uma família; na República os privilégios são de quem os merecer, como hoje bem sublinhava Cavaco Silva.
Esta República é perfeita? Claro que não. Mas numa Monarquia persistiriam os defeitos desta República aos quais de acrescentariam outros tantos.
Se queremos, portanto, debater o regime - os monárquicos querem - temos de pensar entre República hoje e Monarquia hoje. As conclusões parecem evidentes. A irracionalidade de ter uma família na chefia do Estado é uma perda de liberdade dos cidadãos; há privilégios que ninguém deve ter, como o acesso ao poder pelo sangue ou o matrimónio; há cruzes que ninguém deve carregar, como a de se estar predestinado a tão grave missão; o povo deve escolher o seu Chefe de Estado, pois a Nação está para além dele e acima dele, não precisando de estar personificada no sangue de uma família; na República os privilégios são de quem os merecer, como hoje bem sublinhava Cavaco Silva.
Esta República é perfeita? Claro que não. Mas numa Monarquia persistiriam os defeitos desta República aos quais de acrescentariam outros tantos.
Etiquetas: Fé e racionalismo
6/10/09 14:44
Portanto, a maioria dos países modernos da Europa está errada, ou têm fé em excesso é isso? Porque eu preferia que persistissem «os defeitos desta República» e que se acrescentassem outros tantos da Monarquia, desde que Portugal aparecesse entre os 10 primeiros países mais desenvolvidos do Mundo, dos quais 9 são monarquias. Se eles estão errados, eu também quero estar errado.
7/10/09 00:53
Tenho sérias dúvidas que eles sejam os mais desenvolvidos por serem monarquias. Eu não defendo uma ditadura para Portugal ter os índices de crescimento de Angola ou da China. Respeito as monarquias constitucionais europeias, mas acho que o ênfase dos regimes deve estar mais na parte do constitucuional e do democrático do que na dicotomia República vs Monarquia. O artigo do Henrique Raposo que tem uma ligação no post de cima é eloquente em relação a isso. Pensar que Portugal seria mais desenvolvido se fosse hoje uma Monarquia, isso sim é uma questão de fé. No fim do século XIX Portugal não era um dos mais desenvolvidos da Europa, pois não? Não há milagres, meu caro...
7/10/09 10:17
Eu não disse que eram os mais desenvolvidos por serem monarquias, mas penso que não o queiram deixar de o ser - os índices de popularidade do regime mostram-no claramente (quase 80% para Espanha). Mas não podemos descurar o factor estabilidade. Enquanto nós, por exemplo, andamos a brincar às famílias presidenciais de 5 em 5 anos, com todos os custos que isso acarreta (e ainda se pudéssemos eleger um cidadão sem que nos vendem meia dúzia de «pratos já confeccionados), as monarquias focam-se no essencial: a governação do país. Não sei que Portugal hoje seria mais ou menos desenvolvido por ter mantido a Monarquia. Uma coisa é certa, quando, em 1908, a república matou o chefe de estado, Portugal era muito mais desenvolvido do que a o que propaganda republicana fez parecer mais tarde. Mas é assim, talvez cada país tenha o regime que melhor serve ao seu "povo".