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A entrevista de Sócrates, II

José Sócrates voltou a vestir a pele de cordeirinho afável na entrevista de ontem na RTP1, algo que lhe será bastante mais difícil conseguir durante os debates televisivos que hoje arrancam. Duvida-se que Paulo Portas, Francisco Louçã, Jerónimo de Sousa ou Manuela Ferreira Leite estejam, à partida, na disposição de representar o papel de Judite Sousa, macia ao ponto de desistir de fazer perguntas para deixar Sócrates repisar a lengalenga que está registada na sua cassete.

Honestamente, também não se pode dizer que a jornalista tenha sido particularmente acutilante quando entrevistou, há dias, a presidente social-democrata, e iniciou a sua infeliz rubrica das perguntas "giras". Enfim, nestes terrenos, (também) há um empate técnico.

De qualquer forma, como antecipação da ronda de confrontos com os líderes dos partidos da oposição, o serão correu bem ao primeiro-ministro. Teve terreno livre para sublinhar que a escolha dos eleitores é entre PS e PSD, entre si próprio e a líder social-democrata, entre aquilo que tenta vender aos eleitores como a opção por um futuro radioso ou por um passado sem futuro. Calmo e aparentando segurança, mostrou-se mais persuasivo do que quando dá largas à sua natureza agressiva e truculenta.

Apesar das facilidades, também houve deslizes. A exibição de amizades com juízes, como se isso provasse alguma coisa sobre o bom ou mau estado da justiça, o cinismo descabelado na abordagem às suas relações com o Presidente da República e o reconhecimento, ainda assim a muito custo como foi notório pelas palavras escolhidas, de que o Governo não terá sido "delicado" com os professores, como se todo o confronto com esta classe profissional se resumisse a questões de civilidade e etiqueta.

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