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elevador da bica

Um tiro de pólvora seca contra Cavaco

Confesso que fiquei com uma certa azia depois de ter lido a notícia do Expresso sobre o envolvimento de Cavaco Silva na SLN. Pareceu-me uma tentativa - quiçá bem sucedida, mais à frente se verá - de trazer o nome de Cavaco, que tem estado na periferia do tema BPN, mais para o centro da questão.

O problema é que, pelo menos por enquanto, o Expresso não tem nada - e, nestas condições, parece que está a mencionar de forma gratuita o nome do Presidente, misturando ainda ao barulho o facto de a filha de Cavaco também ter investido em acções do BPN (ainda mais gratuito, dentro da vacuidade da história).

Cavaco disse aqui nada ter comprado e vendido ao BPN, facto que resiste à história do Expresso (comprar acções é investir no banco, e não comprar ao banco; de resto, tudo se passou quando ainda não estava em Belém).

Face aos rumores que para aí andam nos jornais sobre Cavaco e o BPN - muito devido às amizades do Presidente... - percebe-se a tentação do Expresso. Mas queimar um cartucho desta forma - e levar para o lamaçal, sem factos concretos, uma instituição política - parece, no mínimo, bastante precipitado.

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“Um tiro de pólvora seca contra Cavaco”

  1. Blogger Vìtor Matos disse:

    Desta vez, amigo, estás enganado. O que o Expresso fez foi jornalismo. Se o PR não quis dizer mais cedo que tinha comprado e vendido acções da SLN - que não estão à venda em bolsa - a responsabilidade é dele. Fez um comunicado manhoso, habilidoso, para esconder o que tinha a obrigação política e ética de tornar público. Mais uma vez: ter as acções não tem nada de mal, mas agora devíamos saber se a posse das acções reverteu em algum benefício desproporcionado para Cavaco ou para algum familiar. Nós jornalistas não devemos estar assim tão preocupados com as instituições meu caro. Devemos estar preocupados em fazer jornalismo. E eles fizeram.

  2. Blogger João Cândido da Silva disse:

    Concordo que Cavaco Silva teria sido mais prudente se tivesse divulgado mais cedo, eventualmente quando emitiu o comunicado em causa, a circunstância de ter sido accionista da SLN. Se notícia é aquilo que alguém não quer que se saiba, então isto é notícia. De resto, não vejo o que esta informação possa provar ou deixar de provar sobre as relações entre o Presidente e o grupo SLN. Essa de que "devíamos saber se a posse das acções reverteu em algum benefício desproporcionado para Cavaco ou para algum familiar" parece-me pura demagogia e moralismo serôdio. Se Cavaco Silva vendeu as acções a bom preço, qual é a questão? Seria diferente se tivesse incorrido em menos-valias? Não entendo.

  3. Blogger Vìtor Matos disse:

    Estamos de acordo menos numa coisa: não é demagogia verificar se houve algum benefício. Se não houve, é notícia que não houve, ficando claro e para sempre evidente que não houve; se houve, houve. Pode ter sido a atenção normal que um banco faz a um accionista, e esse seria um benefício aceitável, ou um desproporcionado que esperamos não ter havido. E não estamos sequer a falar de ilegalidades ou irregularidades. Isto é do domínio do político. Mas primeiro é preciso apurar os factos, ou seja, colocar as questões, as perguntas. São estas dúvidas cartesianas que fazem com que se faça jornalismo todos os dias em todo o mundo, nada mais. Fazendo perguntas.

  4. Blogger Bruno Faria Lopes disse:

    Grande Vítor,

    Depois de apurada reflexão e leituras complementares sobre o assunto e o teu comentário, digo que tens razão num dos argumentos que invocas: sim, Cavaco deu o flanco ao não incluir o facto no comunicado. O Expresso lá esteve, a dizer "afinal não tinhas nada, não tinhas nada, mas foste accionista". Ok, é jornalismo, levanta essa questão de ética - e, como diz o Pacheco Pereira, nem só de leis se faz a "ética republicana". Mas levanta a questão com um tom de insinuação que me parece ser óbvio e que, a mim, jornalista, me deixou insatisfeito.

    Tudo o resto – a mais valia, o "benefício desproporcionado para Cavaco ou algum familiar", as acções fora da bolsa, etc. etc. – é o derramamento da moral do costume, agora revitalizada pela crise. O lucro é mesmo socialmente tramado.

    Um abraço,
    B.

  5. Blogger Vìtor Matos disse:

    Caro Bruno,
    O problema não é o lucro. É o eventual benefício em produtos do banco, para ele ou próximos, enquanto foi accionista. Quanto ao lucro, o Expresso escreveu que não foi desproporcionado e que Cavaco vendeu as acções a um preço aproximado a outras transações realizadas com acções da SLN na mesma altura. Não me parece que esse seja o problema.
    Ab.

  6. Blogger João Cândido da Silva disse:

    O problema "é o eventual benefício em produtos do banco, para ele ou próximos, enquanto foi accionista". Mas quais "eventuais benefícios"? Os clientes, como bem sabemos, não são todos iguais. Uns têm mais garantias, outros menos. Uns apresentam mais risco, outros menos. Onde é que está o problema?

  7. Blogger AT disse:

    O nosso PR podia ter evitado toda esta polémica se, no primeiro comunicado que fez, tivesse deixado claro que teve acções do BPN. Só prolongou uma história que, como era óbvio, o Expresso não ia largar. Não me parece que tenha que divulgar todos os investimentos que fez numa altura em que não tinha as responsabilidades políticas que tem hoje, mas quando a questão é levantada e sobretudo tratando-se do caso BPN, tem o dever ético de o esclarecer. E não de usar subterfúgios e meias-verdades. Agora, não acho que a partir daí se devam tirar outras conclusões: se teve mais-valias com as acções óptimo para ele, é para isso que se investe em mercados financeiros.

    Ana