A telenovelização da política
O primeiro-ministro não admite discussão às medidas que anunciou, garantindo que "não há alternativa". Ao mesmo tempo, insiste que convidou o PSD para uma negociação prévia, lamentando que o PSD tenha recusado. Percebe-se a resposta do PSD, exactamente porque não se percebe o que iria ser negociado - se não há alternativa, não há conversa. O que não tem remédio, remediado está.
Ao mesmo tempo que fecha a porta a qualquer possibilidade de discussão ou negociação, Sócrates abre as portas do seu coração. Cada vez mais narcisista e egotista - eu, eu, eu, eu sou "corajoso", eu tenho "grandeza", eu sou o herdeiro dos grandes, "antes de mim esteve aqui Mário Soares..." - o discurso de Sócrates afasta-se do terreno da política e aproxima-se do registo da telenovela. "Não é sem ter um aperto no coração que estas medidas são tomadas", confessou no Parlamento, com o coração apertado. Apetece perguntar: who fucking cares?
Deve ser influência das telenovelas venezuelanas do amigo Chávez. A verdade é que esta telenovelização da política está a fazer escola. Mais ao menos à mesma hora a que Sócrates discorria sobre os seus apertos cardíacos, Teixeira dos Santos falava em Bruxelas sobre os seus distúrbios de sono. "Devo dizer-vos que para tomar estas medidas dormi mal", admitiu o ministro das Finanças, mal dormido.
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