Um governo sem programa
No verão de 2009, o PS apresentava um programa de governo, coordenado por António Vitorino, em que a palavra “apoio” aparecia 136 vezes – mais do que “despesa”, com oito singelas aparições. O buraco orçamental já galopava a caminho do recorde de 9,4% do PIB, mas isso não travou o “programa com ambição de futuro”. Nele estavam “as três prioridades muito claras” do segundo mandato de Sócrates: “relançar a economia e promover o emprego”, “reforçar a competitividade” e “desenvolver as políticas sociais”. Havia obras públicas, havia “confiança”, havia um choque social. É verdade que ninguém lê estes programas, mas nós, jornalistas, pegamos neles e, com mais ou menos sentido crítico, filtramos as ideias principais para as massas.
O PS acabou por perder a maioria absoluta, mas ganhou as eleições. Mas logo depois veio a Grécia. E veio a revelação de que o défice orçamental português tinha explodido para 9,4%. E veio a crise da dívida, com os mercados malvados. Sócrates explicou: “O mundo mudou”. E o seu governo – com um elenco de segunda linha montado para não desafiar a autoridade do chefe – ficou sem programa. Ironicamente, a mesma crise que forçou Sócrates a descer à realidade, terreno onde não tem rumo, funciona como o seu seguro de vida - é a crise que trava a demissão do ministro das Finanças, que trava uma moção de censura da oposição inexperiente, que impede o fim anunciado de um governo minoritário cada vez mais paralisado. Até quando?
Crónica publicada hoje no i