O ministro do Estado a que isto chegou
Tão diferentes que as coisas eram há apenas um ano - em Setembro de 2009, Teixeira dos Santos falava bem alto num comício do PS no Porto, fazendo um dos discursos mais inflamados e inspirados de toda a campanha eleitoral. Agora, enquanto José Sócrates e o PS cavalgaram pelo Estado social para combater a ameaça laranja, o ministro do Estado e das Finanças emudeceu durante um tempo recorde de um mês e meio. Percebe-se porquê: se o deixarem fazer o seu trabalho, Teixeira dos Santos é o homem do corte no Estado social. Mais: é o homem que, ao subir a cada vez maior factura dos impostos, nos acorda do torpor conseguido pela propaganda política.
Ontem, em Macau - onde foi pedinchar aos investidores internacionais mais uns milhões de euros para a depauperada República -, o ministro rompeu de forma elucidativa o silêncio que durava desde 24 de Julho. Com o talento para a circularidade verbal que se lhe reconhece, lembrou que, depois das subidas do IRS e do IVA este ano, a redução do défice no próximo vai voltar a depender de uma subida da receita - por outras palavras, de uma tesourada nos benefícios fiscais. Falou também de cortes na despesa - em suma, menos dinheiro no nosso bolso. Não admira que o ministro que tira coisas aos portugueses fique em silêncio enquanto o chefe do governo anuncia, contra todas as evidências, que continuará a dar.
Mas o fim do blackout de Teixeira dos Santos é um aviso: ele está a contar com os 450 milhões de euros do corte nos benefícios fiscais. O aviso não é só para os portugueses e o PSD (que garante chumbar uma proposta que inclua o fim das deduções fiscais), mas também para o PS de Sócrates, que terá de negociar em dois tabuleiros: com Passos Coelho e com o seu ministro, que não quererá voltar a ceder.
É que neste segundo mandato Teixeira dos Santos está a perceber que tirar coisas aos portugueses é mais difícil sob a liderança de um primeiro-ministro sem maioria absoluta. Mesmo com o desequilíbrio das contas em níveis recorde e o país a depender financeiramente do Banco Central Europeu, a vontade do ministro das Finanças já foi atropelada várias vezes. Aconteceu com a lei das finanças regionais, com o dinheiro que não ia mas que afinal acabou por ir para as universidades, com os gastos da cultura, com o anúncio da travagem das obras públicas desmentido no mesmo dia pelo ministro da pasta. O clima azedou. No PS há quem esteja farto do que considera as teimosias do ministro. No governo há oposição aberta aos cortes necessários. Na postura do ministro há cansaço evidente e credibilidade desgastada, quer pela gestão do resultado orçamental de 2009, quer pelo arrastar de pés na consolidação orçamental até Julho deste ano.
A situação ilustra bem a paralisia política que tomou conta do país depois das legislativas de há um ano. O PSD segura a espada sobre o governo e gere politicamente a hora da decapitação. O governo, cujo programa eleitoral irrealista foi aniquilado pela crise, gere o país de forma a causar o mínimo de perturbação, para poder enfrentar as eleições que se adivinham. O presidente da República gere, como sempre, a sua carreira política. Pelo meio há uma crise de dívida soberana gravíssima, que ninguém parece estar a ver - e um ministro das Finanças com menos força, logo quando se pedia o contrário. É por isso que Teixeira dos Santos, ministro de Estado e das Finanças, é, na verdade, o ministro do Estado a que isto chegou.
Ontem, em Macau - onde foi pedinchar aos investidores internacionais mais uns milhões de euros para a depauperada República -, o ministro rompeu de forma elucidativa o silêncio que durava desde 24 de Julho. Com o talento para a circularidade verbal que se lhe reconhece, lembrou que, depois das subidas do IRS e do IVA este ano, a redução do défice no próximo vai voltar a depender de uma subida da receita - por outras palavras, de uma tesourada nos benefícios fiscais. Falou também de cortes na despesa - em suma, menos dinheiro no nosso bolso. Não admira que o ministro que tira coisas aos portugueses fique em silêncio enquanto o chefe do governo anuncia, contra todas as evidências, que continuará a dar.
Mas o fim do blackout de Teixeira dos Santos é um aviso: ele está a contar com os 450 milhões de euros do corte nos benefícios fiscais. O aviso não é só para os portugueses e o PSD (que garante chumbar uma proposta que inclua o fim das deduções fiscais), mas também para o PS de Sócrates, que terá de negociar em dois tabuleiros: com Passos Coelho e com o seu ministro, que não quererá voltar a ceder.
É que neste segundo mandato Teixeira dos Santos está a perceber que tirar coisas aos portugueses é mais difícil sob a liderança de um primeiro-ministro sem maioria absoluta. Mesmo com o desequilíbrio das contas em níveis recorde e o país a depender financeiramente do Banco Central Europeu, a vontade do ministro das Finanças já foi atropelada várias vezes. Aconteceu com a lei das finanças regionais, com o dinheiro que não ia mas que afinal acabou por ir para as universidades, com os gastos da cultura, com o anúncio da travagem das obras públicas desmentido no mesmo dia pelo ministro da pasta. O clima azedou. No PS há quem esteja farto do que considera as teimosias do ministro. No governo há oposição aberta aos cortes necessários. Na postura do ministro há cansaço evidente e credibilidade desgastada, quer pela gestão do resultado orçamental de 2009, quer pelo arrastar de pés na consolidação orçamental até Julho deste ano.
A situação ilustra bem a paralisia política que tomou conta do país depois das legislativas de há um ano. O PSD segura a espada sobre o governo e gere politicamente a hora da decapitação. O governo, cujo programa eleitoral irrealista foi aniquilado pela crise, gere o país de forma a causar o mínimo de perturbação, para poder enfrentar as eleições que se adivinham. O presidente da República gere, como sempre, a sua carreira política. Pelo meio há uma crise de dívida soberana gravíssima, que ninguém parece estar a ver - e um ministro das Finanças com menos força, logo quando se pedia o contrário. É por isso que Teixeira dos Santos, ministro de Estado e das Finanças, é, na verdade, o ministro do Estado a que isto chegou.
Opinião publicada no i