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Das Cassandras a Hades: breve guia mitológico para a crise

Começou por ser uma tragédia grega e acabou por contagiar um pequeno país de argonautas capitaneados por um primeiro-ministro com nome de filósofo grego. Mas a Grécia não nos dá só o “contágio” financeiro – também nos deixou o tesouro da mitologia. Na tempestade que assola a economia portuguesa, como em tudo o resto na vida, há muita antiguidade clássica – Teixeira dos Santos, os mercados, o FMI e Medina Carreira, todos são a personificação de pelo menos uma figura da mitologia grega. Atiremos então um pouco da luz do Olimpo sobre esta complexa questão da “crise” – pode ser mais útil para perceber o que se passa do que uma explicação de António Peres Metello.

Ninguém ouviu as Cassandras. A mitologia conta que Cassandra, uma jovem de beleza mítica, levou Apolo a apaixonar-se por ela e a ensinar-lhe os segredos da profecia. O problema veio quando Cassandra resistiu às propostas libidinosas do deus grego, que então lhe lançou uma maldição: jamais alguém acreditaria nas suas profecias. Cassandra bem tentou avisar os troianos das desgraças que aí vinham, mas poucos acreditavam. Beleza mítica à parte, estamos a olhar para Medina Carreira e Silva Lopes – há pelo menos dez anos que andam a avisar os portugueses da desgraça iminente. Mas ninguém ouviu.

O monstro Quimera. De que catástrofes falavam as cassandras? Do crescimento da Quimera, esse monstro com cabeça e corpo de leão, além de outras duas cabeças (sempre imaginativos, os antigos), uma de dragão, outra de cabra. A Quimera lançava fogo pelas narinas. Ser tão fantástico parecia… quimérico – para os portugueses, contudo, o ilusório é bem real. O monstro da dívida, com corpo de défice e ainda duas cabeças (de dívida externa e pública), está maior do que nunca e a 3D. Temos que o matar antes que acabe connosco.

Ainda outro monstro: a Medusa. Mas há mais. As cassandras avisaram que, mais dia menos dia, a temível Medusa iria olhar para nós. A Medusa, que começou por ser mais uma jovem de mítica beleza, foi possuída no chão do templo de Atena por Poseídon, deus do mar e irmão de Zeus. Quem não gostou nada foi Atena, que transformou os seus cabelos em serpentes letais e amaldiçoou o seu olhar: quem recebia uma mirada da Medusa era transformado em pedra. A Medusa habitava no extremo Ocidente, o mesmo lugar onde habitam hoje os maiores mercados financeiros. Com os seus ferozes especuladores, os mercados foram atraídos pelo tamanho da nossa Quimera e estão a olhar para nós – mais um segundo e ficamos feitos em pedra.

Artemis na Lua. A nossa esperança actual contra esta dupla monstruosa está em Artemis (a deusa Diana dos romanos). Artemis – de óptimas famílias: filha de Zeus e irmã gémea de Apolo – era a deusa da caça, dos animais e do mundo selvagem. Levava para todo o lado o seu arco e flecha e não era divindade para brincadeiras – a lista de figuras mitológicas que matou ou transformou em animais é longa. Mais tarde, no entanto, os gregos passaram a associar Artemis a uma titã chamada Selene, deusa da Lua – e o mesmo parece estar a acontecer entre os portugueses e o Ministro das Finanças. Teixeira dos Santos foi o deus da caça ao défice nos primeiros anos no Terreiro do Paço, conseguindo com as suas flechas diminuir o tamanho da Quimera. Mas depois da crise mundial, este Artemis parece isolado e cansado, mais na Lua do que na sua coutada. Perante o olhar prolongado da Medusa assobiou para o lado e fingiu que não era com ele. Acordou esta semana – esperemos que a tempo de evitar a vinda de Hades.

Hades, austero e impiedoso. No fim da luta contra os titãs, Zeus, Poseidon e Hades partilharam entre si os despojos – nada menos que o universo. Zeus ficou com o céu e a terra, Poseidon (o Neptuno dos romanos) com os mares e Hades tornou-se deus do submundo e das riquezas. Hades reinava também sobre os mortos. Era um deus austero e insensível a preces, que inspirava tal dose de medo que as pessoas tentavam nem pronunciar o seu nome. Mas também dava bons conselhos e, no seu reino dos mortos, havia sempre espaço para mais um (razão pela qual era conhecido como o Hospitaleiro). No reino subterrâneo do Fundo Monetário Internacional (FMI) também há sempre lugar para economias mortas ou moribundas – assim como para conselhos implacáveis de austeridade e insensibilidade social. Hades já visitou Portugal nos anos 80 e deve estar agora a limpar o pó ao guia Michelin. Se voltar para controlar os monstros por nós, será a admissão humilhante do nosso fracasso. Há que fazer tudo para o manter lá longe – no submundo.

Crónica publicada este sábado, na Index, a nova revista do i

“Das Cassandras a Hades: breve guia mitológico para a crise”