A ressurreição da regionalização
O facto de Pedro Silva Pereira vir agora falar de regionalização (na conferência da TSF sobre poder local) mostra que o ministro está meio desfocado. Tendo em conta os problemas graves que o País tem, e que lhe caem na secretária todos os dias, não acredito que esteja minimamente preocupado com a regionalização. Se ele estiver, então somos nós que devemos estar preocupados.
A tendência é histórica e vem desde fundação do reino. Houve sempre uma tensão permanente entre as tentativas centralizadoras da Coroa - o terrível Poder Central do Terreiro do Paço -, a grande nobreza, a Igreja e as ordens religiosas. Muitas guerras e conspirações houve por causa disto. A terceira força a fazer pressão, embora num sentido diferente foram os municípios. Enquanto a Coroa queria consolidar o seu poder no território nacional, a aristocracia e o poder eclesiástico forçavam sempre em sentido contrário. Durou séculos.
Esta tensão mantém-se. Num País tão pequeno, num Estado-nação puro, com as contas arruinadas e com uma classe política frágil e sem qualidade, não se percebe a tentação regionalizadora para dar poder à classe política intermédia, que tem ainda menos qualidade. Na guerra contra o Terreiro do Paço agora são as aristocracias partidárias a reclamar poder sobre a sua região, para refundarem um certo sistema feudal que no fundo já existe no interior dos partidos: o senhor da freguesia presta vassalagem ao senhor do concelho que presta vassalagem ao senhor da região que presta vassalagem ao senhor da capital. Quem conhece algumas autarquias por dentro, tem o dever de se horrorizar com qualquer tentativa de regionalização política. Organismos de planeamento regional fazem mais sentido do que multiplicar o Alberto João por cinco: novas regiões, novos órgãos políticos, novos serviços de apoio, mais eleições, mais financiamento, mais caciques, mais gabinetes, mais um patamar de decisão, mais burocracia, mais dinheiro gasto, mais dívida descontrolada, mais inconvenientes que vantagens. Já pagamos que chegue.
27/4/10 18:27
Gostei muito deste texto sobre a regionalização. Estou inteiramente de acordo.
Tenho um modesto blogue só sobre a regionalização - contra a regionalização. Tenho-me sentido muito sozinho.
Os defensores da regionalização são de uma irresponsabilidade cruel. Não lhes passa pela cabeça o caldinho que querem confecionar.
Um dia destes republicaria este texto no meu blogue, se não estiver contra.
Meu blogue
Camaradita