De resto, tudo bem
A União Europeia espera que com anúncios de ajudas consiga travar os ataques à dívida da Grécia e, em menor grau, às dos restantes países do sul da Europa (incluindo o nosso belo canto). Ao anunciar o dinheirinho, espera não ter de chegar a gastá-lo.
Os mercados não acreditam e confrontam o bluff - atacam sem quartel a dívida grega e de outros países periféricos (incluindo o nosso belo canto), como agora a gíria lhes chama. Exigem à UE que mostre as cartas.
A UE não quer mostrar as cartas todas porque receia passar um cheque em branco à incúria criminosa dos gregos, desincentivando os outros infractores (incluindo o nosso belo canto) de tomarem medidas duras e inevitáveis. A UE, onde a Alemanha paga boa parte das contas, tem que primeiro pedir autorização aos tribunais e ao povo alemão, e por isso tem de contemporizar com a retórica e as demoras de Angela Merkel.
Mas os mercados, assustados com a monumental carga de pancada que levaram em 2007 e 2008, em boa parte devido aos ganhos infundados que engoliram em anos anteriores, andam em stress. Os investidores não gostam de risco. Os especuladores gostam do que se passa. E todos pressionam ainda mais o poder político a mostrar as cartas, tornando mais caro pedir emprestado.
No domingo passado, a UE mostra algumas cartas e dá mais detalhes sobre as ajudas à Grécia: mostra de onde vem o dinheirinho.
Mas os mercados só ficam convencidos durante um dia: logo nascem novas dúvidas sobre como será activado esse dinheirinho, para cobrir a falência causada pela má gestão grega e pelos ataques dos próprios mercados. Batem então mais nos gregos e, de caminho, ainda aviam umas bordoadas na outra dívida periférica (incluindo a do nosso belo canto).
De gatas, a Grécia, cujo governo anterior subiu a factura dos salários no Estado em 100% e aldrabou as contas, abre a porta às ajudas: FMI, BCE, UE, todos vão a Atenas na segunda-feira.
Nos mercados já se percebe que a Grécia está coberta. Agora, os olhos de todos - investidores, especuladores, economistas, analistas, estrategistas, jornalistas como este escriba - começam a fixar-se nos próximos elos mais fracos. Nos media de referência todos falam de Portugal, que tem passado relativamente sob o radar, mas que se calhar vai deixar de ter essa sorte, agora que a Grécia já foi temporariamente arrumada. Todos querem que Portugal seja esse "próximo problema global" - mesmo que, no fundo, o problema maior seja de histeria colectiva.
Em Lisboa há indignação e pouca vontade de apertar mais o cinto. Há um governo cansado. Há liberais do outro lado, provavelmente os mesmos que acham que liberalismo é dar os monopólios mal geridos pelo Estado aos privados, para estes pelo menos tornarem o monopólio ainda mais lucrativo, à custa de quem exporta e enfrenta concorrência.
E, no meio de tudo isto, o INE deixou de caracterizar em 2002 o grau de qualificações de quem emigra - grande medida para salvaguardar o moral das tropas, supõe-se.
De resto, tudo bem.
Os mercados não acreditam e confrontam o bluff - atacam sem quartel a dívida grega e de outros países periféricos (incluindo o nosso belo canto), como agora a gíria lhes chama. Exigem à UE que mostre as cartas.
A UE não quer mostrar as cartas todas porque receia passar um cheque em branco à incúria criminosa dos gregos, desincentivando os outros infractores (incluindo o nosso belo canto) de tomarem medidas duras e inevitáveis. A UE, onde a Alemanha paga boa parte das contas, tem que primeiro pedir autorização aos tribunais e ao povo alemão, e por isso tem de contemporizar com a retórica e as demoras de Angela Merkel.
Mas os mercados, assustados com a monumental carga de pancada que levaram em 2007 e 2008, em boa parte devido aos ganhos infundados que engoliram em anos anteriores, andam em stress. Os investidores não gostam de risco. Os especuladores gostam do que se passa. E todos pressionam ainda mais o poder político a mostrar as cartas, tornando mais caro pedir emprestado.
No domingo passado, a UE mostra algumas cartas e dá mais detalhes sobre as ajudas à Grécia: mostra de onde vem o dinheirinho.
Mas os mercados só ficam convencidos durante um dia: logo nascem novas dúvidas sobre como será activado esse dinheirinho, para cobrir a falência causada pela má gestão grega e pelos ataques dos próprios mercados. Batem então mais nos gregos e, de caminho, ainda aviam umas bordoadas na outra dívida periférica (incluindo a do nosso belo canto).
De gatas, a Grécia, cujo governo anterior subiu a factura dos salários no Estado em 100% e aldrabou as contas, abre a porta às ajudas: FMI, BCE, UE, todos vão a Atenas na segunda-feira.
Nos mercados já se percebe que a Grécia está coberta. Agora, os olhos de todos - investidores, especuladores, economistas, analistas, estrategistas, jornalistas como este escriba - começam a fixar-se nos próximos elos mais fracos. Nos media de referência todos falam de Portugal, que tem passado relativamente sob o radar, mas que se calhar vai deixar de ter essa sorte, agora que a Grécia já foi temporariamente arrumada. Todos querem que Portugal seja esse "próximo problema global" - mesmo que, no fundo, o problema maior seja de histeria colectiva.
Em Lisboa há indignação e pouca vontade de apertar mais o cinto. Há um governo cansado. Há liberais do outro lado, provavelmente os mesmos que acham que liberalismo é dar os monopólios mal geridos pelo Estado aos privados, para estes pelo menos tornarem o monopólio ainda mais lucrativo, à custa de quem exporta e enfrenta concorrência.
E, no meio de tudo isto, o INE deixou de caracterizar em 2002 o grau de qualificações de quem emigra - grande medida para salvaguardar o moral das tropas, supõe-se.
De resto, tudo bem.