Por este andar qualquer dia o PS corre com Sócrates
Primeiro: a decisão é correcta.
Segundo: a decisão é contraditória.
O Governo suspendeu o sr. Jurgen Adolff, cônsul honorário de Portugal em Munique, por ser suspeito de ter recebido 1,6 milhões de euros em luvas para facilitar a aquisição de submarinos do consórcio alemão, depois de uma notícia da revista Der Spiegel. Augusto Santos Silva, ministro da Defesa, justificou assim a decisão: "Na medida que chegaram informações ao Ministério dos Negócios Estrangeiros que poderiam por em causa a credibilidade e as condições de exercício de funções da parte de quem representa Portugal, como o cônsul honorário, o ministério decidiu suspender o cônsul". Refira-se que não há uma acusação formal ou uma decisão judicial transitada em julgado.
Façamos um pequeno exercício de pensamento sobre esta augusta frase. Mas aplicada a outras notícias em que se alegou a separação de poderes e a presunção da inocência. Tomemos estes exemplos: "Polícia inglesa suspeita que Sócrates recebeu luvas no Freeport"; ou então, "Sócrates suspeito no processo Cova da Beira"; ou ainda, "MP suspeita que Sócrates quis manipular TVI através da PT". Com base nestas premissas, pedimos ao leitor que releia a frase de Santos Silva em abstracto, sem as referências ao cônsul: "Na medida que chegaram informações que poderiam por em causa a credibilidade e as condições de exercício de funções da parte de quem representa Portugal..." [e aqui as consequências]
Segundo: a decisão é contraditória.
O Governo suspendeu o sr. Jurgen Adolff, cônsul honorário de Portugal em Munique, por ser suspeito de ter recebido 1,6 milhões de euros em luvas para facilitar a aquisição de submarinos do consórcio alemão, depois de uma notícia da revista Der Spiegel. Augusto Santos Silva, ministro da Defesa, justificou assim a decisão: "Na medida que chegaram informações ao Ministério dos Negócios Estrangeiros que poderiam por em causa a credibilidade e as condições de exercício de funções da parte de quem representa Portugal, como o cônsul honorário, o ministério decidiu suspender o cônsul". Refira-se que não há uma acusação formal ou uma decisão judicial transitada em julgado.
Façamos um pequeno exercício de pensamento sobre esta augusta frase. Mas aplicada a outras notícias em que se alegou a separação de poderes e a presunção da inocência. Tomemos estes exemplos: "Polícia inglesa suspeita que Sócrates recebeu luvas no Freeport"; ou então, "Sócrates suspeito no processo Cova da Beira"; ou ainda, "MP suspeita que Sócrates quis manipular TVI através da PT". Com base nestas premissas, pedimos ao leitor que releia a frase de Santos Silva em abstracto, sem as referências ao cônsul: "Na medida que chegaram informações que poderiam por em causa a credibilidade e as condições de exercício de funções da parte de quem representa Portugal..." [e aqui as consequências]
Tendo em conta a rapidez com que o Governo actuou agora contra o cônsul, relembro o padrão de decisões em que fez exactamente o contrário:
- caso Lopes da Mota, em que o Governo recusou actuar;
- caso José Penedos, que só caiu da REN quando a isso a Justiça obrigou;
- caso Rui Pedro Soares, que se manteve na administração da PT para além do limite e nunca foi censurado pelo Governo;
Assim é fácil: o caso em investigação remonta ao tempo do PSD-CDS e além disso o Governo fará tudo o que puder para fazer cair o contrato dos submarinos, como já se percebeu.