Eu vi o Messi jogar à bola
As magias deste último fim-de-semana não são apenas circunstanciais. Não podem ser. Existe uma regularidade no desempenho artístico de Lionel Messi, que nenhum profissionalismo, dedicação ao trabalho, esforço físico consegue acompanhar. Por muitas abdominais e flexões que o Ronaldo faça, por muitas centenas de livres que treine, de sprints que faça, de malabarismos que pratique nos treinos, não há nada que consiga torná-lo mágico. O Ronaldo é uma máquina de desempenho futebolístico. O Messi é outra coisa. É o triunfo da improbabilidade futebolística, a vitória da anti-genética, do futebol de trapos no quintal das traseiras. O Ronaldo celebra golos com raiva, o Messi festeja-os com um sorriso de puro gozo pelo que faz.
O Messi teve problemas sérios de crescimento, aos 12 anos não andava, é feio, atarracado, nunca ninguém lhe viu o torso nú, não se lhe conhecem as namoradas, não é grande estampa para publicidades, não tem mau feitio, parece nem ter feitio. E, apesar de tudo indicar que nunca seria uma estrela neste mundo cintilante, ele é o melhor jogador de futebol do mundo. Por uma única razão: o poder de gerar movimentos involuntários em quem o vê, os olhos bem abertos, as bocas escancaradas, as expressões de incredulidade, as injecções de endorfinas no cérebro, o genuíno prazer de ver a bola acariciada por um génio da arte futebolística.
Já vi milhares de minutos de futebol na vida. Cada um que o Messi ainda me dá de espanto é uma dádiva. E um privilégio que tenciono partilhar com os infelizes que não foram contemporâneos do melhor jogador do mundo depois do Maradona. "Eu vi o Messi jogar à bola".
23/3/10 16:44
Nem mais nem menos!