Ana muito longe de Hannah
A história de amor entre uma filósofa alemã de origem judaica, que pensou o mal absoluto das câmaras de gás, e um dos maiores filósofos do século XX, que aderiu ao partido nazi, só de si valia o bilhete para a peça Hanna e Martin, no Teatro Aberto. No ponto alto da discussão com o seu antigo professor e amante, Hannah Arendt (Ana Padrão) argumenta com alguns dos pressupostos que enunciou em Eichmann em Jerusalém, como o facto de tantos alemães terem deixado aquilo acontecer ao seu país, por acomodação, medo ou tão só por acharem que estavam a exercer burocraticamente a sua função. No caso de Martin Heidegger (Rui Mendes) foi pior: militou no nacional-socialismo e afastou colegas por não serem nazis, não matou mas não se opôs a quem matava. Heidegger dizia a Arendt que só defendia ideias, nada mais do que ideias, porque as ideias não eram perigosas.
Apesar da qualidade do texto e da encenação, Ana Padrão está muitos furos abaixo de Rui Mendes e de todos os outros actores, num papel que exigia mais maturidade e densidade. Faltaram-lhe as entranhas revolvidas de uma exilada que regressa, revoltada, agoniada com a banalidade do mal na Alemanha e que se encontra com o mestre debatendo-se com a ambiguidade de o amar, de o respeitar e de o achar capaz de actos tão desprezíveis quanto o resto dos nazis. Ana não consegue chegar a Hannah.
Etiquetas: teatro
21/2/10 14:13
o problema deste texto, em português, é não ter sido representados por actores. vamos lá ver, o 'duarte' como heidegger, quer dizer.