Ora isto também "é fajer pouco das pechouas"
Parece que o próximo Orçamento do Estado vai contemplar medidas semelhantes às que o Reino Unido e França adoptaram: um imposto extraordinário sobre os bónus pagos na banca. Diz o primeiro-ministro José Sócrates que a ideia é evitar a repetição de "situações verdadeiramente chocantes e escandalosas de pura ganância". Sócrates admite que este tipo de situações "não está a acontecer em Portugal", mas que "o que ficou visível nesta crise é que os grandes riscos foram assumidos pelo público."
O bullshit detector não dá sinal – grita. Convém lembrar o seguinte:
1. Em Portugal o governo concedeu um aval à banca, para facilitar o acesso ao crédito numa altura em que os mercados estavam paralisados pela desconfiança. Foi uma boa medida. Os bancos portugueses recorreram ao aval (num montante global que nem chega a um quinto do limite de 20 mil milhões de euros), mas deverão cumprir. Ou seja, o Estado não vai pagar um cêntimo.
2. Em Portugal houve um banco que custou já 3,5 mil milhões de euros ao Estado: o BPN. Não se sabe quanto deste dinheiro voltará aos cofres públicos. O governo decidiu que a falência desta banqueta – que reúne um sem número de falcatruagem que prende pelo rabo boa parte do bloco central e não só – implicava um risco sistémico. A ideia que fica é que este risco seria sobretudo político.
3. Em Portugal, o governo reduziu o tecto de 20 mil milhões destinado para os avales em 5 mil milhões, valor que somou ao limite de endividamento do Estado. Ou seja, o que fica visível no nosso país não é o preço que o Estado teve de pagar para ajudar o sistema financeiro. O que fica claro é a fragilidade das contas públicas portuguesas – alimentada por má despesa e más decisões ao longo dos últimos 30 anos – que obriga o contribuinte a assumir riscos no futuro.
4. Em Portugal, a banca de investimento (onde se pagam prémios a sério) é liliputiana: uma medida como a britânica abrangeria no máximo 4.500 pessoas, os dirigentes e administradores dos bancos. O impacto na receita seria mínimo. Por outro lado, como reconhece o próprio Sócrates, em Portugal não houve grandes comportamentos de risco: não porque a banca portuguesa seja espectacular, mas porque é deficitária de financiamento, sem liquidez para aventuras de subprime.
5. Em Portugal, a banca paga uma taxa efectiva de imposto (cerca de 15%) bem abaixo da nominal (25%). A mais valias em bolsa não são taxadas. Não quero aqui discutir se deveria haver mais empenho fiscal neste campo – quero apenas notar que onde este ímpeto moralizador teria um impacto financeiro maior o governo não mexe.
Ficamos, pois, com mais um exercício de infantilização do eleitor português. Enquanto isso esperamos para ver se o Orçamento do Estado para 2010 terá realmente alguma medida com impacto, que comece a desatar o nó das contas públicas.
Adenda: Explica o guarda-freio Pedro Esteves, mestre nas matérias financeiras, que na melhor das hipóteses o BPN deverá custar 1,5 mil milhões ao Estado. Fica aqui a devida correcção.
O bullshit detector não dá sinal – grita. Convém lembrar o seguinte:
1. Em Portugal o governo concedeu um aval à banca, para facilitar o acesso ao crédito numa altura em que os mercados estavam paralisados pela desconfiança. Foi uma boa medida. Os bancos portugueses recorreram ao aval (num montante global que nem chega a um quinto do limite de 20 mil milhões de euros), mas deverão cumprir. Ou seja, o Estado não vai pagar um cêntimo.
2. Em Portugal houve um banco que custou já 3,5 mil milhões de euros ao Estado: o BPN. Não se sabe quanto deste dinheiro voltará aos cofres públicos. O governo decidiu que a falência desta banqueta – que reúne um sem número de falcatruagem que prende pelo rabo boa parte do bloco central e não só – implicava um risco sistémico. A ideia que fica é que este risco seria sobretudo político.
3. Em Portugal, o governo reduziu o tecto de 20 mil milhões destinado para os avales em 5 mil milhões, valor que somou ao limite de endividamento do Estado. Ou seja, o que fica visível no nosso país não é o preço que o Estado teve de pagar para ajudar o sistema financeiro. O que fica claro é a fragilidade das contas públicas portuguesas – alimentada por má despesa e más decisões ao longo dos últimos 30 anos – que obriga o contribuinte a assumir riscos no futuro.
4. Em Portugal, a banca de investimento (onde se pagam prémios a sério) é liliputiana: uma medida como a britânica abrangeria no máximo 4.500 pessoas, os dirigentes e administradores dos bancos. O impacto na receita seria mínimo. Por outro lado, como reconhece o próprio Sócrates, em Portugal não houve grandes comportamentos de risco: não porque a banca portuguesa seja espectacular, mas porque é deficitária de financiamento, sem liquidez para aventuras de subprime.
5. Em Portugal, a banca paga uma taxa efectiva de imposto (cerca de 15%) bem abaixo da nominal (25%). A mais valias em bolsa não são taxadas. Não quero aqui discutir se deveria haver mais empenho fiscal neste campo – quero apenas notar que onde este ímpeto moralizador teria um impacto financeiro maior o governo não mexe.
Ficamos, pois, com mais um exercício de infantilização do eleitor português. Enquanto isso esperamos para ver se o Orçamento do Estado para 2010 terá realmente alguma medida com impacto, que comece a desatar o nó das contas públicas.
Adenda: Explica o guarda-freio Pedro Esteves, mestre nas matérias financeiras, que na melhor das hipóteses o BPN deverá custar 1,5 mil milhões ao Estado. Fica aqui a devida correcção.
13/12/09 16:53
Caríssimo companheiro de ascensões e descensões, só um reparo piqueno (já que estamos a falar de banca, é de bom tom usar os erros de oratória dos banqueiros): o BPN não custou 3,5 mil milhões de euros ao Estado. O Estado, através da CGD, injectou liquidez nesse valor nos cofres do banco nacionalizado, mas sob a forma de tradicionais financiamentos. Como faz a qualquer um de nós que queira comprar uma coisa qualquer. O BPN, ou quem lhe pegar, vai ter de gerir esse dinheiro no âmbito da normal actividade bancária. Tal como os outros gerem os financiamentos que fazem junto uns dos outros, do BCE ou do próprio Estado. O que o BPN vai custar ao contribuinte está do outro lado, no lado das perdas já registadas. E essas andam pelos dois mil milhões. É capital perdido. Se quiseres, capital queimado. Esse, só será recuperado através da venda de activos. E, na melhor das hipóteses, renderá 600 milhões. O resto é buraco puro. E este capital queimado (fruto das brincadeiras em Cabo Verde e outras), provavelmente, nem a melhor empresa especializada em recuperação de créditos consegue reaver um tostão. Portanto, se quiseres, a nacionalização vai custar-nos, no pior cenário, 1,5 mil milhões de euros.
Quanto ao resto, totalmente de acordo... em especial na questão do "risco político" e na demagogia fiscal que descreves.
13/12/09 17:10
Obrigado!... vou introduzir uma adenda ao post. Abraço
13/12/09 23:44
Embora muito avisados
com palavras informadas,
continuamos atrasados
e com políticas tramadas.
Com a nau atolada
em terrenos pantanosos,
a decadência revelada
depois de anos luminosos.
São milhões avalizados
para tapar asneiradas,
com recursos enfezados
de décadas sideradas.
Mais milhão, menos milhão,
o buraco está por tapar,
mas lá estará o mexilhão
mais uma vez a “lerpar”.