Dubai: o fim da euforia na economia que nada produz
Em reportagem no Dubai, em Novembro de 2007, visitei um estaleiro de construção de 40 torres com mais de 30 andares, destinados a apartamentos, a escritórios e a lojas. Estava tudo a ser construído ao mesmo tempo, à velocidade da luz. O engenheiro responsável pela obra explicou-me que aquilo não era nada: uma vez tinham-lhe pedido para fazer uma torre em forma de livro deitado, toda ela giratória (projecto em que ainda pensou, mas recusou por motivos técnicos). Essa seria mais uma extravagância a somar às ilhas artificiais em forma de palmeira (o meio que o pequeno Emirato arranjou para multiplicar a terra comercializável), aos maiores centros comerciais do planeta, à torre mais alta do mundo e ao hotel mais caro (etc. etc.).
Nada disto, está claro, podia resultar. Simplificando até ao limite, o Dubai é uma economia de serviços – o petróleo pesa 4% no Orçamento, ao contrário do que se passa no realmente rico Abu Dhabi – que não produz (nem inova) quase nada. Tem uma população local pouco preparada e estragada por dinheiro fácil e rápido – afinal, há apenas algumas décadas eram nómadas e pescadores – que paga bem pelo conhecimento dos estrangeiros (e explora a mão-de-obra barata da Índia, Paquistão e Bangladesh). Por outro, acumulou uma dívida enorme para financiar, lá está, uma economia de imobiliário, consumo e turismo. Depois da Islândia, era uma questão de tempo até a crise financeira asfixiar o Dubai, que fica agora nas mãos dos poderes vizinhos (que deixaram cair o Emirato), esses sim com petróleo, gás e dinheiro.
Portugal é uma economia com grandes diferenças face ao Dubai, mas a situação serve de exemplo. O peso dos serviços na economia do shopping center portuguesa é de 70%; desta fatia, uma percentagem mínima (cerca de 5%) é exportável, o resto é motor de consumo interno (e importações e endividamento). Portugal tem também uma dívida cada vez maior (a total, directa e indirecta, já deverá exceder 120% do PIB). A grande vantagem? Portugal pertence ao clube da zona euro, que exige a consolidação orçamental criticada por muitos, mas que não deixa cair um dos seus membros em incumprimento – uma garantia que, como tudo na vida, terá seguramente um limite e um prazo de validade.