Crucifixion? Yes, please
"Qualquer dia vão querer acabar com o sinal '+' na Matemática", ironiza o porta-voz da Conferência Episcopal Portuguesa a propósito das ordens para retirar os crucifixos das salas das escolas públicas. A tirada faz lembrar uma história dos tempos da Berlim da guerra fria – consternados com o reflexo em forma de '+' que o sol fazia no topo espelhado da torre em Alexander Platz, os políticos da ex-RDA desesperavam em busca de uma solução para o problema bicudo de ter um símbolo religioso na construção mais alta da cidade. Até que veio a ideia, também ela brilhante: o "+" era um sinal positivo para o comunismo germânico e para a URSS.
Concordo com a retirada dos símbolos religiosos das escolas públicas, não porque a escola tenha de ser um buraco negro espiritual (como muitos defendem), mas porque pelo menos em termos formais – de representação – deve haver uma delimitação clara entre Estado e religião. O argumento do Tribunal Europeu dos Direitos Humanos aponta outra razão válida: a liberdade de escolha religiosa das famílias e dos próprios alunos.
O que já não percebo é a sanha anti-religiosa nas escolas, com laivos de Iª República. É curioso que se pense que ao banir a representação religiosa – ou ao impedir pessoas das igrejas de visitar as escolas – se está a defender esse espaço imaginário de vácuo espiritual, no qual crescem saudavelmente os alunos. O cristianismo faz parte integrante da matriz cultural europeia – por outras palavras, o seu impacto indirecto é transversal a toda a sociedade. Mesmo aquela parte que, por ignorância ou pura inocência, nega à partida algo que desconhece.
Imagem: Life of Brian, 1979, Terry Jones (Monty Python)