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Uma escola de boçalidade e cobardia

Os acontecimentos no Colégio Militar não devem surpreender. As "praxadelas" e os abusos de autoridade são vulgares nas instituições militares e, nestas coisas, de pequenino se torce o pepino. Os que hoje agridem impunemente, resguardados pelo posto e pela antiguidade, são os que ontem foram agredidos e humilhados, aproveitando a oportunidade de estarem na mó de cima para satisfazerem os seus desejos mesquinhos de vingança.

Quando fiz a tropa, vi muito disto. Tiranetes animados da mais primária boçalidade em busca de qualquer oportunidade para mostrar quem mandava. Eles achavam que estava em causa incutir disciplina e os mais nobres valores militares. Eu só via cobardia à solta e tudo o que de pior pode albergar-se na natureza humana, sobretudo quando uns dourados em cima dos ombros fornecem poder sem quaisquer limites.

Lembro-me de, em Santa Margarida, um oficial de carreira pregar, sempre que podia, as virtudes militares. O que eu via, pelo contrário, era uma escola de vício. Conheci, às dezenas, gente que vinha do Portugal profundo e que contactava com a droga, pela primeira vez, durante o serviço militar, já para não falar do vulgar alcoolismo.

"O exército é uma escola de virtudes", dizia esse major que me parecia um extraterrestre necessitado de internamento. Só não me ria na cara dele porque fazer isto perante imbecis que se levam muito a sério é um exercício arriscado quando a faca e o queijo estão exclusivamente nas mãos desses loucos.

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