O essencial e o acessório na peça do DN
Há ali duas histórias na história ontem publicada pelo DN.
A principal, de longe a mais importante, é institucional - aponta aquilo que alguns suspeitavam, ou seja, o envolvimento de um homem da confiança do Presidente da República na história sobre suspeitas de espionagem a Belém, publicada em Agosto no Público. O DN não escreve, mas deixa a ideia nas entrelinhas: nada disto terá sido feito sem a autorização de Cavaco. Plantada pelo governo ou não, esta é uma história relevante, que alimenta a sensação geral de incredulidade perante o desabar das instituições em Portugal e a falta de segurança na esfera privada. Para os portugueses sobram várias perguntas ainda sem resposta, com destaque para estas quatro: 1) O Governo de José Sócrates anda a espiar a Presidência?, 2) Por que razão a Presidência, instituição cimeira da República, age desta forma, através de um jornal?, 3) Que consequências terá todo este caso para os envolvidos e para o funcionamento das instituições?, 4) se vigiam Belém, será que vigiam também a minha empresa, o meu jornal, o meu correio?
Depois, só depois, há a outra história - a do veneno com que a peça do DN foi escrita (uma história importante tratada como uma pequena vingança entre jornaleiros), o ataque ao Público e a Luciano Alvarez (que até teve direito a fotografia), a publicação inédita de mensagens internas do Público, a manipulação dos jornais feita por São Bento e por Belém. Aqui, há as outras perguntas, com destaque para esta: 1) Como é que o DN teve acesso aos emails do Público? Tudo isto é importante, sim, mas secundário face à gravidade da história principal.