O Elevador faz as contas à vida
Houve muito sol e turistada na Bica, mas ainda assim o Elevador conseguiu olhar para as contas da pequena república portuguesa em 2008 (e para as promessas e castelos no ar em 2009).
Aqui ficam algumas conclusões:
1. Crise enterrou e autarquias não ajudaram O ministro das Finanças explicou que os responsáveis pela revisão em alta do défice orçamental (de 2,2% para 2,6%) foram a crise e as autarquias. Sim, a crise contou: no final de 2008 o PIB cresceu menos 3,3 mil milhões de euros do que o Governo esperava (perante Bruxelas) em Outubro – como o défice é medido em percentagem do PIB, percebe-se o efeito... Por outro lado, há todo o impacto na quebra de receita fiscal, que explica em boa parte o comportamento bem abaixo do esperado da chamada Administração Central (mais 449 milhões de euros de défice, 0,3 pontos do PIB). Mas e as câmaras? O seu saldo final agravou-se e, no final do ano, houve uma surpresa negativa de 140 milhões de euros face ao esperado em Outubro – as câmaras explicaram 0,1 dos 0,4 pontos a mais no défice.
2. Teixeira dos Santos deu um sinal Um para as câmaras: o desvio não foi assim tão grande para merecer a advertência do ministro (a Associação dos Municípios já veio refilar), mas começa já a pressão das Finanças para, em ano eleitoral, estes meninos não se esticarem. Será ver para crer.
3. E depois deu outro À sua maneira, o politicamente hábil ministro admitiu que podemos todos esquecer a meta de 3,9% para o défice orçamental este ano, ao afirmar que "não está obcecado com o número" e que a prioridade está no combate à crise. Câmaras cuidado!, nem todos vão poder gastar à tripa forra – sim, porque...
4. ... este ano será à grande O investimento público subirá 36% face a 2008, diz a Governo, mas na realidade não é bem assim – é que, feitas as contas, em 2008 houve cerca de 300 milhões de euros de investimento, previsto por altura de Outubro, que não descolou. O efeito base conta, assim, um pouco – se excluírmos isto a subida é de 23%. But still, é uma valente subida, a maior pelo menos desde 2004... Tudo para reavivar a economia, explicaram as Finanças.
5. A factura será também à grande – mais 11 mil milhões de euros Em 2009, a dívida pública subirá 7%, para atingir 72% da riqueza, antecipando em um ano a trajectória de agravamento projectada pelo Governo. Os juros a pagar também dão um bom salto, para 3,3% do PIB (o Elevador não tem a série longa, mas isto deve ser o maior salto em vários anos).
Resumindo: menos crescimento económico (-0,8% segundo o optimismo de São Bento), mais despesa (investimento público, despesas sociais, aumentos no Estado), mais défice orçamental, mais dívida pública. Ou seja, nem pensar em descidas de impostos nos próximos anos. A crise internacional não perdoa – os desequilíbrios internos não ajudam.