O elogio da mentira
No Elevador da Bica, é assim. Enquanto um elevador sobe o outro desce e vice versa. E ainda bem. Portanto, há muitas vezes em que não estamos de acordo, embora os dois elevadores se encontrem a meio do caminho.
José Sócrates não cumpriu a promessa eleitoral e ainda bem. O princípio de o fazer por sistema é negativo - sobretudo numa questão tão central como os impostos -, mas incumprir promessas que são más, do meu ponto de vista é bom. Como a promessa do referendo.
Sócrates não podia fazer o referendo por causa de todos os outros países europeus onde poderia haver referendo e não haverá. Sócrates sacrifica-se assim internamente em nome da realpolitik. Se um, dois ou três países fizessem referendo, haveria muitos mais países onde haveria referendo. Reino Unido incluído. E se o Tratado de Lisboa fosse ratificado por referendo, jamais haveria tratado de Lisboa, jamais haveria qualquer tratado da União Europeia. Há um valor mais alto para onde olhar. E como nunca haverá um tratado perfeito quando olhado a partir de 27 perspectivas - este tratado não é perfeito para Portugal, mas também não é perfeito para ninguém -, seria sempre chumbado nalgum país. E um chumbo num país significaria um chumbo em todos os países. Desta vez Sócrates fez bem. Esteve bem ao justificar-se com a questão internacional que o referendo iria desencadear. Esteve mal ao dizer que a sua promessa eleitoral se referia à constituição e não ao tratado, porque, na essência são a mesma coisa.
PS: Sócrates arrumou hoje com a questão da Eslovénia, ao dizer, no Parlamento, que o primeiro-ministro esloveno "foi infeliz" ao imiscuir-se nas questões internas portuguesas. Foi engraçado ouvir Paulo Portas, há uns dias, afirmar que «alguém do Governo devia dizer ao Governo da Eslovénia que Portugal é um Estado soberano, com instituições próprias e soberanas». Não foi Portas que recebeu uma condecoração do sr. Rumsfeld por patriotismo pouco depois de sair do Governo? É um verdadeiro patriota.
José Sócrates não cumpriu a promessa eleitoral e ainda bem. O princípio de o fazer por sistema é negativo - sobretudo numa questão tão central como os impostos -, mas incumprir promessas que são más, do meu ponto de vista é bom. Como a promessa do referendo.
Sócrates não podia fazer o referendo por causa de todos os outros países europeus onde poderia haver referendo e não haverá. Sócrates sacrifica-se assim internamente em nome da realpolitik. Se um, dois ou três países fizessem referendo, haveria muitos mais países onde haveria referendo. Reino Unido incluído. E se o Tratado de Lisboa fosse ratificado por referendo, jamais haveria tratado de Lisboa, jamais haveria qualquer tratado da União Europeia. Há um valor mais alto para onde olhar. E como nunca haverá um tratado perfeito quando olhado a partir de 27 perspectivas - este tratado não é perfeito para Portugal, mas também não é perfeito para ninguém -, seria sempre chumbado nalgum país. E um chumbo num país significaria um chumbo em todos os países. Desta vez Sócrates fez bem. Esteve bem ao justificar-se com a questão internacional que o referendo iria desencadear. Esteve mal ao dizer que a sua promessa eleitoral se referia à constituição e não ao tratado, porque, na essência são a mesma coisa.
PS: Sócrates arrumou hoje com a questão da Eslovénia, ao dizer, no Parlamento, que o primeiro-ministro esloveno "foi infeliz" ao imiscuir-se nas questões internas portuguesas. Foi engraçado ouvir Paulo Portas, há uns dias, afirmar que «alguém do Governo devia dizer ao Governo da Eslovénia que Portugal é um Estado soberano, com instituições próprias e soberanas». Não foi Portas que recebeu uma condecoração do sr. Rumsfeld por patriotismo pouco depois de sair do Governo? É um verdadeiro patriota.