Saramago e a Bíblia: quem sabe nunca esquece
Saramago é para apreciadores de ironia - é o maior prazer que nos oferece. Saramago não é um daqueles escritores de personagens, mas sim alguém que constrói cenários para depois descrever, com a sua lente feita de uma ironia de punho fechado (ao serviço daquilo em que acredita), como todas as suas peças se movem.
Em todos os comentários estafados (novidade seria se viessem de outras proveniências) que Saramago fez nos últimos dias sobre a Bíblia está lá essa ironia: quando nos diz que é ingénuo; quando nos faz acreditar que ele, o mesmo homem que derrama veneno mais ou menos elegante nos seus livros, usa da ortodoxia adversária para justificar a sua, clamando “ingenuidade” para poder levar o que está na Bíblia à letra; quando, depois de ter atirado aos media o isco de soundbites irresistíveis ("manual de maus costumes", “catálogo de crueldade"), diz que o novo livro está a atrair as atenções de todos sem ainda ter sido lido.
Este derramamento de ironia em larga escala mostra que o velho Saramago ainda está em forma – foi como se nestes dias tivesse gozado o prazer de entrar num dos seus livros, movimentando a partir de dentro as tais peças do cenário, esperando pacientemente pelas reacções. O homem que não esconde a superioridade que julga ter sobre boa parte da humanidade teve no final direito a tudo o que queria - com o bónus da publicidade para o livro.
Em todos os comentários estafados (novidade seria se viessem de outras proveniências) que Saramago fez nos últimos dias sobre a Bíblia está lá essa ironia: quando nos diz que é ingénuo; quando nos faz acreditar que ele, o mesmo homem que derrama veneno mais ou menos elegante nos seus livros, usa da ortodoxia adversária para justificar a sua, clamando “ingenuidade” para poder levar o que está na Bíblia à letra; quando, depois de ter atirado aos media o isco de soundbites irresistíveis ("manual de maus costumes", “catálogo de crueldade"), diz que o novo livro está a atrair as atenções de todos sem ainda ter sido lido.
Este derramamento de ironia em larga escala mostra que o velho Saramago ainda está em forma – foi como se nestes dias tivesse gozado o prazer de entrar num dos seus livros, movimentando a partir de dentro as tais peças do cenário, esperando pacientemente pelas reacções. O homem que não esconde a superioridade que julga ter sobre boa parte da humanidade teve no final direito a tudo o que queria - com o bónus da publicidade para o livro.
22/10/09 11:28
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