Conto de Natal em São Bento
Na sua mensagem de Natal, Sócrates falava, estranhamente, para cima. Para o Altíssimo? Não, porque não é religioso. Para a miúda da produção, com um metro e oitenta e cinco que estava ao lado da câmara? Jamais suporíamos tamanha desfaçatez. Para o teleponto? Ah, sim, era isso. Um homem que segue o teleponto assim, em vez de olhar os portugueses olhos nos olhos, a fazer gestos artificiais com as mãos e a olhar para o vazio - talvez um horizonte que nenhum de nós consiga vislumbrar, um ponto de chegada, o nosso destino colectivo -, um homem que segue o teleponto assim, escrevia eu, é um homem que está a olhar para si mesmo, não para os outros. Foi a ideia que me surgiu na cabeça, no dia de Natal, ao jantar, a ver o primeiro-ministro falar para os anjinhos pendurados por cima do presépio. Vejam só o que um político sofre só porque o realizador não o focou à distância conveniente... É verdade que a coisa melhorou com aquele close-up lento, quando o ângulo se fechou sobre a face de José Sócrates. Aí ele entou em nossa casa, falou para nós e os anjinhos ficaram mais descansados. Mas voltei a sentir-me constrangido quando o primeiro-ministro, subitamente, me pareceu o Mr. Spock. Sim, aquelas orelhas, filmadas daquela perspectiva, pareciam as do Mr. Spock. Foi a vingança do anjinho, quando Sócrates falou dos idosos, pobrezinhos, com mais de 65 anos, que precisam do complemento de reforma - e não falou dos idosos, pobrezinhos, que agora só se podem reformar aos 65.
27/12/07 14:39
Deixe-se de hipocrisia. O que interessa é comentar o conteúdo da alocução e não a o jeito para o teleponto. Conclusão possível: nda a dizer de importante mas convem desacreditar a personagem.