O País do Não
A minha cara amiga ITM defende coisas aqui no Corta-Fitas que fariam de Portugal uma Irlanda: nessa linha de pensamento, uma miúda de 13 anos brutalmente violada seria obrigada a parir o filho de um crime; uma mulher que soubesse que o filho nasceria morto não poderia abortar porque isso é eutanásia; uma mãe em risco de vida teria de esperar para se perceber mesmo que a sua vida estava em risco, antes de se optar pela sua própria vida. Escreve ITM: "Em consciência não poderia votar sim porque não encontrei maneira de atenuar o mal de se acabar legalmente com uma vida humana. Aqui não há meio termo. Ou se mantém, ou se destrói". Acho que as opiniões, legítimas, é claro, de muitos adeptos do "Não", sobretudo dos mais católicos, dão uma ideia clara do tipo de País em que gostariam de viver.
12/2/07 14:51
País...? Tens uma visão muito limitada. Por mim podes substituir a palavra por Mundo. Com letra grande...
12/2/07 19:50
Caro Vítor,
deixa que não entre em polémica e aceita que te responda aqui. O que pretendi vincar é que, existindo de facto dois valores em confronto na legislação sobre aborto (valores graves ao ponto do aborto mercer tutela penal e não civil), o legislador não deve, quanto a mim, esquecer essa dualidade. Claro que ao criar excepções está a privilegiar a defesa da mulher, e, nesse sentido, em certos casos, a lei aceita que a vida do feto seja danificada irremediavelmente. Não é isso que me interessa. O grave na nova excepção é que o legislador perdeu, julgo eu, de vista o equilíbrio, a atenção delicada aos dois valores em confronto. Excedeu-se em favor de um sem razão para tal. Quanto aos exemplos que dás, são reais, dramáticos, e infelizmente conheço muito bem um caso dentro de um dos exemplos apontados. A opção foi inevitavelmente o aborto. A mulher, minha amiga, essa está viva, bem de saúde, ninguém a julgou (nem tinha por que o fazer) e não vive num país de papões. Um beijinho e felicidades nas subidas...
12/2/07 21:14
Minha cara ITM,
Posso não concordar, mas compreendo quem pelos seus valores, sobretudo religiosos e morais, coloque a questão do aborto da maneira como colocas. Não sei se eu próprio seria capaz de viver tranquilo com a ideia de ser cúmplice num aborto. Mas não me parece que tenhamos de impor as nossas convicções a toda a sociedade. O legislador não perdeu a noção do equilíbrio, porque se decide não penalizar a mulher, deve dar condições para que os abortos não sejam feitos em más condições. Porque continuarão a ser feitos. Para o ser humano, o conflito entre o dever ser e o ser será eterna, mas neste caso a realidade é como é, e entre dois males deve escolher-se o menor. A minha questão é que quando se invoca o argumento da vida desde a concepção, aí quem o defende tem de ir até ao fundo de forma radical, porque uma vida é uma vida em qualquer circunstância, desde a violação à má formação. Obrigado pela tua resposta. Bons cortes e um beijinho